De acordo com a ILO (Organização Internacional do Trabalho), ocorrem 270 milhões de acidentes ocupacionais e 160 milhões de doenças ocupacionais a cada ano no mundo. No Brasil, durante os últimos anos, várias regulamentações foram atualizadas levando à conclusão que a organização industrial deverá priorizar a prevenção ergonômica e DORTs, especialmente relacionada às condições ergonômicas a fim de manter a competitividade e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

O objetivo do projeto foi realizar uma completa reestruturação da gestão da ergonomia em uma indústria eletrônica, estabelecendo a metodologia OCRA (estudo ergonômico que aplica o método Occupational Repetitive Actions) como principal ferramenta de análise, mapeamento e aperfeiçoamento dos postos de trabalho, considerando ser uma ferramenta de rápida aplicação, fácil e capaz de avaliar todos os fatores de risco potenciais para determinar a ocorrência de DORTs (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho).

Para alcançar os resultados no tempo ideal, foi criada uma força tarefa interdisciplinar composta por integrantes de todas as partes da organização, incluindo a Alta Direção, Engenharia de Processo,CIPA, SESMT, automação, engenheiros de segurança, analistas de tempos e métodos, técnicos de segurança, fisioterapeutas, médicos e em especial, os próprios trabalhadores que receberam treinamento e aplicaram o Checklist OCRA em todas as estações de trabalho de duas grandes áreas da empresa.

Como parte das ações de redução de risco, o “rodízio de tarefas” também foi utilizado, permitindo o potencial para maior flexibilidade na produção, maior satisfação dos funcionários e redução das queixas em geral. Porém, o estabelecimento de um sistema de controle e monitoramento correto da execução do rodízio de tarefas não é uma tarefa simples.

 

Problemas comuns na implantaçãode sistemas de Rodízio:

  • Dificuldade de adaptação;
  • Diferenças nos níveis salariais entre os trabalhadores dos postos de trabalho selecionados para rodízio;
  • Resistência a executar trabalhos diferentes;
  • Distância física entre um trabalho e outro;
  • Dificuldade em encontrar tarefas apropriadas (que permitam reduzir a sobrecarga biomecânica e o risco de DORTs);
  • Dificuldades de treinamento de trabalhadores “multiskill”, que conheçam as sutilezas de todas as tarefas;
  • Incapacidade física para realizar as tarefas mais difíceis;
  • Inconsistências e falhas no cumprimento;
  • Difícil registro e controle do cumprimento do rodízio.

A mudança estrutural da organização permitindo que as ações de análise e investigação ergonômicas sejam efetuadas antes de qualquer mudança de layout,ferramentas e ambientes laborais também foi um dos focos da intervenção realizada, o que não somente atende melhor aos anseios dos usuários dos diversos ambientes de trabalho, como se traduzem em ganhos econômicos fundamentais para as indústrias,visto que é sempre melhor executar corretamente os projetos do que trabalhar posteriormente na correção de inadequações. Para qualquer mudança de ambiente laboral, foi adotado o modelo abaixo, que conta inclusive com a participação fundamental dos trabalhadores das áreas.

Concomitantemente ao processo de melhorias nos ambientes laborais, outros fluxos e processos na área da gestão médica também foram objeto de análise e otimização.

As taxas de risco ergonômico global diminuíram de 32% para4%, após seis meses de projeto.

No gerenciamento ambulatorial das queixas potenciais de DORTs através de mecanismos de investigação, foram estruturados os seguintes passos:

  • Coleta de dados clínicos dos trabalhadores pela área médica;
  • Análise ergonômica de posto de trabalho:
    1. Checklist OCRA (para tarefas relacionadas aos segmentos dos membros superiores);
    2. Equação NIOSH revisada para levantamento de cargas (NIOSH by OCRA);
  • Execução de melhorias ergonômicas quando necessárias;
  • Feedback para cada trabalhador sobre seu caso;
  • Acompanhamento dos trabalhadores por profissionais de saúde.

Com uma abordagem individualizada para investigação e acompanhamento, onde fatores individuais e coletivos são considerados para cada caso, e os resultados obtidos mostram um entendimento claro do real valor que o investimento em Ergonomia e nas ações de melhoria nos ambientes de trabalho representa para a indústria.

Com ações de melhoria de postos de trabalho, ambiente e processos industriais, as taxas de risco ergonômico global diminuíram de 32% – considerando o mapeamento inicial que apresentou um total de 320 estações de trabalho com Checklist OCRA acima de 14 pontos – para 4% após seis meses de projeto, desde o primeiro treinamento da ferramenta OCRA CHECKLIST. E o absenteísmo total diminuiu de 4,2% para 1,67% 12 meses após a reestruturação do gerenciamento ergonômico.

 

Conclusão

O novo sistema de gerenciamento integrado de ergonomia estabelecendo a Metodologia OCRA como principal ferramenta de análise permitiu a identificação precoce de possíveis riscos ocupacionais para os membros superiores e a execução rápida de melhorias. Também foi possível observar um melhor desempenho geral da produção, melhor qualidade de produtos e serviços e aumento da produtividade com menor risco para os trabalhadores.

Os custos dessas melhorias são apenas uma pequena parte de todo o investimento na qualidade de vida dos trabalhadores e o retorno deste investimento em geral já consegue ser percebido em menos de um ano. Além disso, com produtos e processos mais seguros, proporcionalmente a incidência de queixas, possíveis lesões ou doenças, e os custos relacionados com acidentes de trabalho irão diminuir, permitindo uma melhora na imagem da empresa, se consolidando como uma organização verdadeiramente sustentável e socialmente responsável.