Cumprem sua jornada com sol ou chuva, frio ou calor, até entre raios e trovões. Ficam expostos às mudanças climáticas, mau cheiro, ataques de animais domésticos e peçonhentos. Lidam com resíduos orgânicos, com vírus, bactérias e substâncias perigosas que afetam diretamente a saúde. Precisam se adaptar ao peso de recipientes, à altura das lixeiras, que não seguem um parâmetro padrão, pois muitas vezes, o lixo está mal acondicionado: sacos rasgados ou deixados abertos nas calçadas e em quantidade incompatível com o tamanho do saco ou caixa utilizado para embalar. Os profissionais sofrem demasiadamente com dores no corpo e fadigas.
“As reclamações de dores físicas são inúmeras. As principais são as dos conjuntos de dores nos braços e pernas. Associado a isso vem a L.E.R (Lesões por Esforços Repetitivos). Também ocorrem os problemas de coluna e as entorses (lesão que acontece quando o tornozelo vira). Há ainda os acidentes com objetos perfurocortantes, como por exemplo, latas, espetos de churrasco, vidros e cacos, que ocorrem constantemente e são muito sérios também”, relata a assessora da diretoria técnica da Fundacentro, Tereza Luiza, pesquisadora e autora do livro, ‘Coletores de Lixo: ambiguidade do trabalho na rua’.
Os animais peçonhentos, insetos, roedores e cachorros, são outra ameaça à saúde dos colaboradores deste segmento. Especialmente em lugares onde os resíduos ficam acumulados por mais tempo. “O que acontece, às vezes, em situações que presenciei, é que em lugares como as periferias, em que há muito acúmulo de resíduos, vários sacos sem acondicionamento adequado juntam baratas e ratos”. “Já em lugares secos, há riscos mais frequentes com escorpiões”, explica Tereza.
Os profissionais enfrentam outros perigos, como os cães, precisando se proteger das mordidas. Esses animais, muitas vezes, se sentem ameaçados com a presença dos coletores e os atacam.
O bom caminho
Em 2016 um grupo de trabalho, composto por servidores da Coordenação Geral de Normatização e Programas (CGNOR) do Ministério do Trabalho e Fundacentro, propôs a criação de uma norma que visa atender as relações de trabalho desta categoria. Cuidar de todas as exigências necessárias para questão da saúde e segurança dos coletores. O pedido partiu dos trabalhadores e empresários cujo objetivo é diminuir os riscos sofridos diariamente na coleta de lixo. A divulgação de um novo parecer sobre a norma será feita através do portal e de canais de informações, mídias sociais da Fundacentro e Ministério do Trabalho.
Pensando em atuais boas práticas, os treinamentos de conscientização e usos de equipamentos de proteção se enquadram em algumas das soluções para diminuição de riscos. Portanto, é necessário o uso de uniformes, como calças e camisas que tenham faixas reflexivas para proteção em ambientes de baixa iluminação, o uso das luvas, por conta dos manuseios constantes de objetos perfurocortantes e de calçados leves e resistentes.
A motivação que transforma
O trabalho na rua apresenta para os coletores, experiências de afago, assim como de hostilidades, já que podem receber o sorriso de uma criança, como também olhares tortos de alguns moradores que insistem no acondicionamento inadequado do lixo. Diante destes paradoxos, alguns profissionais criam alternativas para se aproximar mais dos moradores e ensinar a maneira correta para o acondicionamento do lixo. “Dou dicas de como dividir o peso dos sacos de lixo, identificar, armazenar corretamente os cacos de vidro e não enroscar sacolas em grade” declarou Kennedy Silva. Coletor há quatro anos na cidade de Umuarama-PR, Kennedy, junto com o colega de equipe Romildo de Souza, gravam periodicamente vídeos em canal da internet com objetivo de conscientizar a população sobre os cuidados com os descartes dos resíduos.
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