Falar sobre hábito intestinal, para muitas pessoas pode não ser o tema mais agradável e com certa frequência gera algum constrangimento. Popularmente conhecida como Prisão de Ventre, Intestino preso, Intestino ressecado, são os mais diversos termos empregados para se referir a Constipação Intestinal – CI.

Trata-se de uma desordem gastrointestinal de causa multifatorial que acomete um grande número de indivíduos. Está entre as cinco desordens gastrointestinais mais frequentemente diagnosticadas em serviços médicos.  Sua prevalência tende a variar de acordo com o local, com o grupo populacional avaliado e também com o método utilizado por parte dos profissionais para efetuar o diagnóstico (Silva, M.S. Et. All. 2015).

A Constipação Intestinal afeta desfavoravelmente a qualidade de vida de grande parcela da população, não se restringindo somente a adultos, mas também crianças, gestantes e com grande frequência o público idoso. É frequentemente associada a outros sintomas que influenciam negativamente a vida diária. É um importante fator gerador de custos com assistência médica pública e privada, uma vez que é um dos motivos mais comuns para consultas em ambulatórios de gastrenterologia (BASTOS et al., 2018).

As doenças crônicas não transmissíveis – DCNT, bem como os medicamentos utilizados para o tratamento, muitas vezes estão significativamente relacionados à constipação intestinal. Entretanto, por ser um problema de causa multifatorial, existe uma parcela de fatores causais os quais pode-se classificar como modificáveis e, por conta disto merecem destaque, já que são passíveis de intervenções para melhoria da sintomatologia. Deste modo observa-se que nos dias atuais a CI é comumente associada ao consumo elevado de carboidratos refinados e produtos ultraprocessados/industrializados, acompanhado de uma baixa ingestão hídrica, uma alimentação pobre em fibras, e sedentarismo (Silva, M.S. Et. All. 2015).

A água é um nutriente essencial à vida, atua no controle da temperatura corporal, age no transporte de nutrientes e na eliminação de substâncias não necessárias, e ainda participa ativamente do processo digestivo, respiratório, cardiovascular e renal. A deficiência se manifesta rapidamente e leva ao aparecimento dos sintomas da desidratação.

A ingestão de água é controlada pela sensação de sede. A média diária de ingestão oral de água, pelo adulto, é de 1.500 a 3.000L ou em torno de 30 a 40ml/kg de peso corpóreo. Os líquidos (água e bebidas) forneceram 3,0L e 2,2L por dia para homens e mulheres, respectivamente, representando aproximadamente 81% da ingestão total de água.

O conteúdo total de água dos alimentos corresponde a 19% da água total ingerida. O peso das frutas é de até 95% ou mais de água e da carne, até 50% ou mais, enquanto o açúcar e os óleos não contêm água. Se o indivíduo consumir uma dieta com porções recomendadas de frutas, legumes e verduras, que contêm muita água, não é necessário ingerir tanto líquido quanto a recomendação de 8 copos/dia. A ingestão de líquidos por indivíduos saudáveis pode variar dependendo do nível de atividade, ambiente e da dieta (Carvalho, A. P. L. Zanardo, V. P. S, 2010).

As fibras dietéticas são dotadas de propriedades físico-químicas e têm importante papel fisiológico na regulação do funcionamento do trato gastrointestinal. No estomago elas compõem o bolo alimentar, conferindo maior volume e maciez, conferindo maior saciedade e por tempo mais prolongado, uma vez que tornam o processo digestivo mais lento.

No intestino, as fibras aumentam o volume do bolo fecal, desaceleram o trânsito intestinal, promovem melhor absorção e aproveitamento de nutrientes essenciais colaborando para que ao final do processo a eliminação fecal ocorra mais facilmente e em menor tempo.

São nutrientes do grupo dos carboidratos, porém diferente dos demais elas não são absorvidas durante o processo digestivo e não fornecem calorias.  Existem dois tipos:

Fibras solúveis possuem a capacidade de absorver líquidos e formar um gel, dando maciez ao bolo fecal. No intestino grosso são facilmente fermentáveis.

Fibras insolúveis são uma categoria cuja característica é dar volume ao bolo alimentar e posteriormente bolo fecal, isto se dá devido ao fato de não absorverem líquidos, ou seja, são insolúveis em água. Sua fermentação é limitada e ocorre no intestino grosso, onde ativam a liberação de hormônios envolvidos na regulação da ingestão de alimentos.

Muito se estuda e investiga a cerca da inadequação do consumo de fibras dietéticas estar relacionado ao consumo excessivo de produtos alimentícios ultraprocessados. Tais alimentos passam por muitas modificações/processos industriais de forma que necessitam de pouca ou nenhuma preparação. Durante este processo são acrescidos sal e/ou açúcar e/ou gorduras, algumas vezes submetidos à fritura, defumação, decapagem e frequentemente são adicionados conservantes e aditivos (corantes, estabilizantes, acidulantes…), o que os torna extremamente palatáveis e de baixo custo para o consumidor final. Contudo a quantidade de fibras alimentares constituintes nesses alimentos são mínimas (SILVA G.M. ET AL. 2019). Ou seja, quanto maior o nível de processamento do alimento, menores são as quantidades de fibras alimentares.

Quando comparados os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Brasil dos anos de 2008/2009 com à pesquisa anterior, do ano de 2002/2003 observa-se elevação no consumo de alimentos ultraprocessados e redução dos minimamente processados e in natura. Tal achado justifica a diminuição do consumo de fibras dietéticas.

O Novo Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda que a alimentação seja baseada preferencialmente no consumo dos alimentos in natura, minimamente processados e cereais integrais. O consumo de cerais refinados, carboidratos simples e alimentos processados e ultra processados seja limitado.