O Mundo, tal como o conhecemos, está em plena e vertiginosa mudança. Cada vez mais a informação e o conhecimento são veiculados a uma velocidade completamente louca, deixando-nos, por vezes, igualmente loucos ao tentarmos acompanhar a mesma. Importa pensarmos nisto, quer na nossa via pessoal, quer em termos sociais, quer ainda no ponto de vista laboral. E, quando se fala neste último ponto de vista, trabalhar em Ambientes de Trabalho Saudáveis é situação que deveria ser proporcionada a qualquer trabalhador, em qualquer parte do Mundo. Mas isto era o ideal, pois a realidade está muito aquém do que seria esperado, adequado e justo!
Não é de agora esta preocupação com o trabalho em ambientes saudáveis, mas tem ganhado maior expressão com os chamados “riscos emergentes”. Não significa que estes riscos sejam novos, pois sempre estiveram presentes no mundo do trabalho; significa isso sim, que apenas desde há alguns anos têm sido alvo de atenção particular, alguns deles, fruto da alteração de alguns paradigmas, como, por exemplo, o conceito de Saúde, mas também devido à velocidade de propagação de informação e conhecimento já referida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a Saúde como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas uma falta de doença”. Há, pois, uma tripla dimensão cujos componentes não são passíveis de separação, pois integram um ser único: o ser humano. A forma como cada um de nós processa estas três dimensões faz-nos ter mais ou menos saúde…
A OMS refere o que pode ser considerado um Ambiente de Trabalho Saudável: “aquele em que os trabalhadores e chefes colaboram num processo de melhoria contínua para promover e proteger a saúde, a segurança e o bem-estar dos trabalhadores e sustentabilidade do ambiente de trabalho”. Coloca-se, pois uma questão, de interesse tanto para os trabalhadores quanto para os empregadores: porquê desenvolver fundamentos para Ambientes de Trabalho Saudáveis? De acordo com o publicado no documento da OMS “Ambientes de Trabalho Saudáveis: fundamentos e modelos da OMS” (2010), a razão principal é a necessidade de as organizações se tornarem promotoras do Bem-Estar, subdividida em quatro vertentes: uma ética, uma econômica, uma legal e uma solidária ou humanitária.
Razão ética organizacional – É o correto a ser feito. Do XVIII Congresso sobre Segurança e Saúde no Trabalho (Seul – Coreia, 2008), resultou uma declaração sobre Segurança e Saúde Ocupacional, que afirma especificamente que “um ambiente de trabalho seguro e saudável é um direito humano fundamental”.
Razão de interesse econômico – É uma ação inteligente. Existem muitas evidências que demonstram que, a médio/largo prazo, as empresas de maior mais êxito e mais competitivas são aquelas que têm os melhores registros de Saúde e Segurança, já que os trabalhadores se sentem mais seguros e estão sãos e satisfeitos. Em consequência, diminuem os níveis de estresse, os acidentes, as doenças crónicas, as baixas laborais, o absentismo ou o presentismo. Tudo isto se repercute favoravelmente nos custos e na produtividade, pois se evitam faltas, greves, rotação de pessoal ou falhas na qualidade do produto ou na organização.
Por cumprir com a lei – É a condição legal. Refere-se aos requisitos legais em cada país, o qual pode variar significativamente, dependendo de onde a organização está localizada.
Por repercutir positivamente em todos os níveis – É a razão solidária. Infelizmente, a maioria das empresas não entenderam ainda os benefícios de proporcionar Ambientes de Trabalho Saudáveis, ou não tem o conhecimento, habilidades ou ferramentas para melhorar as coisas. Cerca de metade da população mundial está em idade laboral ativa e é trabalhadora. Como não existem só os trabalhadores, mas também as suas famílias e o seu ambiente comunitário com os quais se relacionam, promover o Bem-Estar do local de trabalho não só afeta o trabalhador, como vai muito mais longe (família, amigos, ambiente). Por esta razão também, as organizações devem tornar-se promotores do Bem-Estar, porque os benefícios afetarão todos os níveis.
Assim, os Locais de Trabalho Saudáveis contribuem positivamente para o Bem‑Estar e para a Felicidade dos trabalhadores e, consequentemente, para uma sua melhor Qualidade de Vida.
Bem-Estar
Bem-Estar, de acordo com a RAE (Real Academia Española), é o conjunto das coisas necessárias para se viver bem, é a vida folgada ou repleta de tudo o que leva estar bem e a paz de espírito, é o estado da pessoa no qual o funcionamento adequado da sua actividade somática e psíquica é perceptível.
Segundo Amartya Sem, o Bem-Estar “é o estado em que os indivíduos têm capacidade e possibilidade de levar uma vida que valorizam. Isso é determinado por uma série de liberdades instrumentais: ter segurança pessoal e ambiental, acesso a bens materiais para levar uma vida digna, boa saúde e boas relações sociais. Tudo isso está intimamente relacionado e está subjacente à liberdade de tomar decisões e agir.”
O Bem-Estar vai muito mais além dos conceitos de saúde física, exercício ou nutrição. É uma integração global e completa da Saúde, na sua tripla dimensão, à qual se junta a dimensão espiritual e a ambiental. Detalhando um pouco mais, podem ser consideradas sete dimensões do Bem-Estar: física, intelectual, emocional, espiritual, ocupacional, social e ambiental. Cada uma delas age e interage de maneira a contribuir para uma melhor Qualidade de Vida.
As organizações começam a constatar que um trabalhador feliz rende mais. De acordo com um estudo do iOpener Institute of Oxford, trabalhadores felizes ficam duas vezes mais tempo no trabalho, têm 65% mais energia e a ligação com a empresa é maior. É por isso que existem cada vez mais empresas a decidir medir a sua felicidade. É uma tendência na consciência das organizações. Há uma clara relação entre os níveis de Bem-Estar em todas as suas dimensões e as taxas de felicidade, de modo que as organizações que implementem um modelo de promoção do Bem-Estar obtêm uma melhoria significativa nos seus índices de avaliação (produtividade, competitividade, absentismo, presentismo, entre outros). Para além do Bem-Estar, há aspectos diretamente relacionados com organização do trabalho que também podem contribuir para a Felicidade. De acordo com um estudo da Universidade de Harvard, há três e todos eles estão ligados ao conceito de compromisso com a organização e desta para com os trabalhadores: Neste processo de conciliação/relação das três realidades Ambientes de Trabalho Saudáveis / Bem-Estar / Felicidade, há dois conceitos fundamentais, muito próximos e relacionados, mas também diferentes e que importa ter em conta: Motivação e Satisfação. A Motivação pode ser definida como o conjunto de estímulos ou mecanismos que levam a pessoa a executar determinadas ações e persistir nelas para o seu ponto culminante. Tem a ver com a ação e as emoções. Depende, fundamentalmente, do próprio indivíduo, do que cada um faz para continuar motivado e não embarcar numa espiral de desalento ou de falta de crença em si mesmo. A Satisfação está mais relacionada com o cumprimento das expectativas ou necessidades atuais, mas não leva, necessariamente, a uma implicação de médio ou longo prazo. Afeta o desempenho. Depende, essencialmente, da Organização, na medida em que esta tem a obrigação de proporcionar as condições de trabalho, aos mais diversos níveis, adequadas para que o trabalhador se sinta Seguro, Saudável, com Bem-Estar e Feliz. É claro que a Satisfação contribui direta ou indiretamente, para a Motivação, mas as responsabilidades de concretização de cada uma são diferentes. Enquanto Organização, o dever é de proporcionar Satisfação aos seus Trabalhadores. Enquanto Trabalhador, o dever é o de encontrar estratégias para se manter Motivado e o que cada um tem de fazer depende unicamente do que definir para si!
Trabalho e Felicidade
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