O objetivo geral desta atuação é possibilitar respostas psicossociais a situações que se desenvolvem em decorrência de emergências críticas ou desastres.
A equipe psicossocial deve ser composta por profissionais de diferentes formações que possam ser necessários em uma situação de emergência ou catástrofe: psicólogos, assistentes sociais, médicos, enfermeiros, profissionais religiosos, entre outros, sempre trabalhando de forma coordenada entre si e com a estrutura geral de gestão da emergência.
Sua distribuição pode seguir a vinculação territorial, considerando que possam ter maiores conhecimentos sobre as realidades locais, aspectos culturais e recursos disponíveis.
Em geral, as funções ligadas às atividades psicossociais em emergências e desastres devem ser encaminhadas a realizar atividades de planejamento, prevenção, intervenção, e reabilitação psicossocial para minimizar possíveis impactos psicossociais adversos que possam ser provenientes da situação de desordem ou caos estabelecido que altere a rotina e cotidianidade das relações sociais.
O processo de intervenção psicossocial em emergência ou desastres prescinde que se definam as estratégias de intervenção com a designação de líder do processo de intervenção e interlocutor para a coordenação da equipe psicossocial; o planejamento e estruturação das ações de intervenção propriamente ditas e suas células por regiões, locais ou territórios; a sistematização das ações e registro do desenvolvimento da intervenção; o monitoramento de resultados e a continuidade das ações após a emergência.
O desenvolvimento das ações de forma coordenada com a designação de uma Coordenação Da Equipe Psicossocial é favorável à eficácia das intervenções e deve realizar as tarefas de intermediar junto ao Centro de operações e Coordenação, bem como, atuar como transmissor das informações decorrentes.
A coleta de informações sobre a evolução do atendimento psicossocial em seus distintos cenários deve ser contínua e planejada pelo coordenador, especialmente considerando os momentos de briefing entre os vários profissionais envolvidos.
Também é necessário à Coordenação Da Equipe Psicossocial moderar a dinâmica e organização dos subgrupos de atendimento, que estejam distribuídos em suas várias células de suporte, seja por território ou grupos de risco, ainda considerando a necessidade de prover os recursos necessários para a intervenção (físico, equipamento, humano, material), bem como, dar diretrizes sobre a intervenção psicossocial, ou ainda, mediar relações com órgãos externos e meios de comunicação, se necessário.
Também deve fazer parte da estratégia planejar o suporte psicossocial para a equipe de intervenção na emergência – incluindo-se a equipe de atendimento psicossocial.
A intervenção psicossocial direta junto aos indivíduos necessita identificar as necessidades de atuação, com organização e planejamento das ações, considerando sempre que possível: a) recolher os dados sobre as reações observáveis dos afetados; b) observar comportamentos individuais e coletivos para detectar possíveis necessidades de intervenção psicossocial complementares; d) avaliar a evolução preventiva das ações e identificar se há grupos de maior risco para a intervenção; e) disponibilizar tratamento específico para manifestações de adoecimentos psiquiátricos prévios ou manifestos ao longo da emergência ou desastre; f) atenção à saúde mental de longo prazo; g) assessoria psicossocial a gestores e atuantes ativos na crise; h): organização de células de atendimento; i) definir mecanismos de informação e comunicação de más notícias; j) orientar sobre o manejo de rumores sociais ou contágio de informações pessimistas ou alarmantes; l) conduzir para apoio psicológico ou psiquiátrico os casos críticos identificados.
Na estruturação da equipe de atuação direta na intervenção psicossocial na Emergência ou Desastre deve-se considerar a possibilidade de identificar profissionais que possuam interesse em atuar nesse tipo de atividade e que preferencialmente disponham de: a) habilidades sociais como empatia, acolhimento e escuta, capacidade para contato físico; b) capacidade de atuar em alto grau de tensão emocional, ciente da necessidade de conhecer e manejar de forma adequada e responsável as situações identificadas; c) atenção à capacidade física e psicológica, identificando e comunicando riscos e fadiga; d) capacidade de adaptação e flexibilidade frente à perspectiva de complexidade e diversidades que podem advir de emergências e desastres; e) disposição para trabalhar em equipes de forma colaborativa, integrada, atendendo às necessidades da estrutura de atendimento à emergência e não necessariamente às suas formas e condições habituais de atendimento; f) perceber em si a possibilidade de lidar com as frustrações e limites do cenário de emergência ou desastre; g) capacidade de organização e planejamento; h) disposição para atuar e tomar decisões em situações de alto estresse.
O processo de intervenção psicossocial não acaba com a decretação do final do processo de emergência ou desastre, posto que há ações a serem planejadas e desenvolvidas após o cenário de maior criticidade.
Assim, funções a serem desenvolvidas após a emergência podem incluir: a) promover ou realizar apoio psicossocial para seguimento dos grupos de intervenção para grupos críticos ou considerados de risco, incluindo indivíduos ou familiares; b) elaboração de informes técnicos sobre todas as atividades psicossociais desenvolvidas ao longo da emergência ou desastre; c) suporte e debriefing das equipes de atendimento psicossocial e suas consequências secundárias após a conclusão da intervenção mobilizando recursos externos para atendimento se necessário.
É relevante ressaltar que um acontecimento não habitual que promove graves alterações na sociabilidade como a ocorrência de emergências ou desastres produz em todos os indivíduos níveis acentuados de stress que podem coincidir com uma mobilização emocional intensa, que possam vir a dificultar a capacidade de concentração e foco, alterar a percepção de estímulos, ou mesmo do processamento das informações recebidas, ou ainda, produzir sintomas de hipervigilância e sobressaltos.
Em condições de aumento do estresse podem surgir alterações na percepção da realidade, reações emocionais desorganizadas, adoecimentos psíquicos.
As situações extremas e aumentadas para risco psicossocial precisam receber a atenção primária e serem encaminhadas para intervenção especializada de forma contínua ao primeiro atendimento.
Também é possível mencionar sobre condutas coletivas que podem ser manifestas e precisam ser observadas do ponto de vista da coordenação da intervenção psicossocial, baseado nos relatos colhidos junto aos profissionais da intervenção.
Pode-se considerar como pontos de atenção, não atendimento às orientações de organização da crise: sanitárias, comportamentais, prevenção, reações grupais de pânico ou catastróficos, entre outros.
Pode-se observar que os indivíduos frente a situações de crise como emergências ou desastres precisariam ser considerados em seus aspectos prévios, nem sempre disponíveis para a informação do profissional de intervenção, tais como: Capacidade de reações a mudanças; necessidade de informações claras e precisas sobre a situação que o envolve; capacidade de previsão de ações de forma a gerenciar a ansiedade; sentimentos de desesperança e confusão especialmente se manifesto comportamentos de se expor a riscos; ambiguidade como percepção de fonte de ameaças; alterações biológicas ou de padrões de reações de comportamentos habituais.
As possibilidades e condições expostas visam sistematizar informações que possam favorecer o desempenho de ações e o estabelecimento de Equipes de Atuação Psicossocial em Emergências ou Desastres, sempre primando pela atuação em cuidados de saúde que se estabeleçam de forma coordenada e planejada no momento imediato à decretação da emergência, no planejamento e implementação da intervenção psicossocial, na continuidade das ações de saúde mental, e o cuidado com as equipes de atuação psicossocial.
A sistematização das informações e das práticas desenvolvidas pode contribuir para o aprimoramento técnico da intervenção e para a promoção da saúde integrada.