Normalmente, sou convidada para falar sobre empreendedorismo, e sempre falo que as empreendedoras são movidas por uma necessidade de realização e desejo de realmente fazer a diferença, principalmente quando o empreendedorismo está focado no conceito de sustentabilidade e de produtos voltados para o universo dominado pelos homens.

Costumo dizer que, para nós mulheres e mães empreendedoras, não é fácil conciliar trabalho, cuidado com filhos e os afazeres domésticos, e dependendo de com o que você trabalha, lidar com o machismo também não é tarefa fácil. Comecei um empreendimento com cachaça de alambique, tive que me reinventar, adquirir conhecimentos sobre o universo da produção da cachaça, para ser respeitada.

Mas o apoio de mulheres empreendedoras, como Rozana Benfica, produtora de cachaça em Belém do Pará, Rosy Braga, distribuidora também de cachaça em Curitiba e Lina Carajas, foram determinantes nos momentos de desalento. O apoio da minha família também, meu ex marido, alemão, que me apoia no cuidado com minhas filhas, me impulsionam a acreditar e ter força para  empreender. No mundo corporativo, esse tipo de suporte às mulheres ainda é muito incipiente.

Para empreender no Brasil, você tem que ser movido por paixão e muita resiliência. São tantas as adversidades, que podem te fazer desistir na primeira tentativa, é uma mudança de mentalidade, postura e muita esperança em si mesmo.

A nossa empresa surgiu com essa proposta, de vencer barreiras, com uma equipe interdisciplinar. Cada produto que chega, está imbuído de sustentabilidade, rastreabilidade, sabores e saberes. Porém, nos deparamos todos os dias com as dificuldades inerentes às nossas escolhas, com os produtos com os quais não temos exclusividade, corremos o risco de termos nossos fornecedores como concorrentes, e isso traz detrimento para todos.

Normalmente, recebemos um produto, fazemos um trabalho de marketing de guerrilha para posicionar esse produto no mercado, porque a maioria desses produtos vem de cooperativas, ou empresas de agricultura familiar, e não tem investimento em marketing. Posicionamos esses produtos no mercado, e corremos o risco de sermos substituídos pelo próprio fornecedor, ou novo representante. Mas isso reflete a falta de ética que assola as relações no Brasil; por isso, estabeleço muito bem as relações de compromisso e respeito nas minhas relações de negócio.

No entanto, isso nem sempre é uma garantia. Nesse segmento de distribuição, independente do conceito que você empreende, a tributação é um grande problema, as distâncias estaduais, a falta de incentivo ao microempreendedor e de conhecimento sobre as origens dos produtos regionais. Temos no nosso portfólio produto com jambu (Acmella oleracea) , uma erva típica da região norte do Brasil, produtos derivados do licurí e embu da caatinga, cajuína (suco de caju orgânico) do Ceará. É fundamental agregar e repassar o conhecimento desses produtos e das suas respectivas regiões. O consumidor final nem sempre tem esses conhecimentos.

Porém, apesar de todas as dificuldades, vale a pena empreender; portanto, é necessário conhecer bem o nicho que se quer empreender, abrir mão da zona de conforto, estar preparado para lidar com críticas a duvidar muitas vezes de você mesmo, quando planos e ideias não derem certo, ter coragem de demitir um funcionário, mesmo sabendo que ele precisa do emprego, ficar no cheque especial de instituições inescrupulosas que cobram altos juros, ficar noites sem dormir pensando como vai pagar fornecedores e  folha de pagamento de custos básicos e variáveis da empresa. Tente transformar a certeza em dúvida, a malandragem em trabalho, e se cair, aprenda a levantar. Empreender é isso, não é glamour, é para poucos.