O ano de 2020 será, sem dúvidas, marcado como um ano de grandes impactos para os trabalhadores e também para as empresas. Em um momento tão grave em que o mundo vem passando, diante desta terrível epidemia, é natural que empresas e trabalhadores procurem se proteger das consequências da retração econômica que o mundo vem atravessando.

Já é esperado que mais de 80 milhões (estimativas da OIT) de empregos sejam perdidos no mundo em razão da retração econômica provocada pela pandemia. Os mercados globais estão sendo afetados em escalas nunca vistas antes, principalmente em setores que possuem estreita ligação com transporte aéreo de passageiros, hotelaria e turismo; mas outros setores também estão sofrendo pesadamente com a situação.

No Brasil, vemos os desdobramentos econômicos e sociais desta pandemia com muita preocupação, sabendo que se as empresas tiverem dificuldades financeiras para suportar o momento difícil, os empregos também serão fortemente afetados, agravando ainda mais o quadro de desemprego que vinha se mantendo em alta nos últimos anos.

Para conhecer como pensam as empresas sobre esta situação, e como têm lidado com as restrições comerciais e de distanciamento, a Revista Preven convidou José Augusto Nogueira, Diretor de Operações da rede Ipiranga para falar com nossos leitores.

Vale lembrar que a empresa Ipiranga, tem hoje, mais de 80 anos de história e é uma das maiores redes de distribuição de combustíveis do Brasil, comercializando combustíveis para mais de 7 mil postos, e ainda possui mais de 6 mil grandes clientes que usam seus produtos para atividades da indústria e de transporte coletivo e de carga.

Acompanhe abaixo, a entrevista.

1. O novo coronavírus já infectou mais de 5.5 milhão de pessoas no mundo, levando a óbito mais de 350 mil infectados em praticamente todos os países do globo nos cinco continentes desde o surgimento da doença, em dezembro passado e afetando profundamente a economia global. Quais têm sido as medidas econômicas para proteger a empresa de uma situação de perdas financeiras e como a empresa tem se ajustado diante desta situação?

A união da iniciativa privada com poder público é o caminho para suportar a sociedade em termos socioeconômicos. No Ipiranga, definimos uma estratégia com medidas econômicas, avaliando cada frente de atuação. Postergamos investimentos e despesas que não eram essenciais para abrir espaço, para apoiar nossa rede de clientes e outros parceiros durante esse período. Nesse momento, estamos atuando em quatro frentes: cuidar das pessoas, sustentar nossa operação, apoiar a rede de distribuição e parceiros e ajudar a sociedade.

2. As medidas de proteção ao emprego dos seus colaboradores estimam um período que possa ser suportável do ponto de vista financeiro da empresa ou isso independe dos desdobramentos e a possiblidade de se estender ainda mais o período de confinamento social?

No momento, não temos nenhum plano de alterar o nosso quadro de pessoal.

3. Quais as medidas que a empresa tem tomado para proteger a segurança e a saúde de seus colaboradores?

Em nosso escritório, adotamos todas as orientações de prevenção e limpeza emitidas pela Organização Mundial de Saúde e 90% dos nossos funcionários estão trabalhando em home office. As viagens a trabalho também foram suspensas e, nas áreas operacionais, como bases de combustíveis e centros de distribuição, qualquer pessoa com sintomas similares ao COVID-19 (tosse, febre ou falta de ar) é orientada a ficar em casa, além das adaptações, como de higiene e proteção pessoal com o uso obrigatório de EPIs (como máscaras).

4. Quais são as medidas que a Ipiranga tem feito para garantir o abastecimento de seus postos e redes conveniadas?

Nós adequamos nossa operação, com novas medidas de saúde e segurança, bem como com comunicação e informações sobre prevenção e cuidados de etiqueta respiratória e higiene nas nossas operacionais, e estamos realizando o abastecimento de nossos produtos, seguindo todas as recomendações dos órgãos de saúde.

5. Em caso de confirmação de algum colaborador haver contraído a Covid-19, a empresa faz algum tipo de acompanhamento ou mesmo de orientação? Se fizer, como é feito esse procedimento?

Sim. Temos uma área médica acompanhando cada caso de suspeita da doença e um canal disponível para dúvidas. Além disso, implantamos suporte de psicólogos e de assistentes sociais para funcionários e seus familiares.

6. O impacto da Covid-19 nas empresas deve levar a uma forma mais sustentável de se fazer negócios? Como o senhor entende que essa suscetibilidade pode afetar a forma como a empresa vem atuando no mercado nacional?

Sustentabilidade é um dos principais pilares da Ipiranga e, nesse momento, estamos ainda mais comprometidos em apoiar toda nossa cadeia de valor. Nossa estratégia no combate da COVID-19 é, prioritariamente, cuidar das pessoas, continuar prestando serviço de excelência, dar suporte aos nossos revendedores, franqueados e demais parceiros, além de apoiar o sistema de saúde. A sociedade sempre esperou esse valor das organizações e, sem dúvidas, após essa crise, a importância do desenvolvimento sustentável será ainda mais relevante para a sociedade.

7. É necessário pensar no longo prazo?

Sem dúvidas. Embora não tenhamos estimativas muito concretas do que o Brasil e o mundo enfrentarão passada a pandemia, precisamos avaliar cenários e nos preparar para a retomada das atividades econômicas, de forma organizada e estruturada.

8. Em tempos de COVID-19, qual é o papel da tecnologia como estratégia nas empresas, não apenas para sobreviver diante da crise, mas também para seu crescimento e posicionamento no mercado?

A tecnologia e a transformação digital já vinham, há algum tempo, recebendo mais atenção das empresas, sendo considerados aspectos de investimento prioritário. A necessidade imposta pela pandemia, de se trabalhar remotamente e realizar mais tarefas de ordem pessoal, sem sair de casa, reforça o destaque estratégico da tecnologia nas empresas. No caso da Ipiranga, para além desse momento, somos reconhecidos pelo pioneirismo no segmento em diversas inovações e seguiremos com esse ‘mindset’. O ‘Abastece Aí’, por exemplo, meio de pagamento eletrônico da Ipiranga tem sido um importante aliado para garantir a segurança em nosso atendimento, evitando a necessidade de usar cartões e dinheiro nos abastecimentos e nas compras na am/pm.

9. Devemos pensar também as atitudes pós-pandemia do coronavírus?

Como falamos anteriormente, precisamos avaliar cenários e nos preparar para a retomada das atividades econômicas de toda a sociedade de forma organizada e estruturada. Sabemos que está acontecendo uma transformação social e estamos acompanhando de perto esse movimento.

10. Como o senhor acredita que questões sociais, ambientais e mesmo de segurança e saúde do trabalhador poderão mudar pós-pandemia?

É um evento inédito, não temos muitas certezas, mas, sem dúvidas vamos romper paradigmas nos modelos organizacionais das empresas após esse período.

11. As medidas mais amplas de retomada, direcionadas à reconstrução econômica do país, das empresas e dos empregos parecem ainda não estar claras no radar do governo; como o senhor enxerga essa situação?

As empresas, o governo e a sociedade estão aprendendo juntos e se adequando. O cenário é complexo e a certeza de que temos é que a união e parceria de empresas, do poder público e terceiro setor serão fundamentais para o enfrentamento da sociedade à pandemia.

12. A agenda empresarial, focada no desenvolvimento de uma nova maneira de atuar perante a sociedade é uma nova realidade?

Como dito anteriormente, entendemos que esse momento de crise pede a união de toda a sociedade. Posso falar com propriedade da Ipiranga e firmamos um compromisso triplo com a sociedade: o abastecimento de nossos produtos de primeira necessidade, nossa ajuda no combate à COVID-19 e o reconhecimento e manutenção do trabalho que nossos grandes times têm feito até agora.

13. O que as grandes economias do mundo estão fazendo para evitar falências e a falta de dinheiro?

Temos observado no mundo todo, uma atuação para apoiar no suporte à sociedade, com ações que minimizem a contaminação, aumentem a capacidade das redes de saúde e apoiem comunidades em situação de vulnerabilidade social. Ao mesmo tempo, vemos uma frente importante de suporte às camadas em maior vulnerabilidade social e a pequenas e médias empresas.

14. Por fim, como o senhor enxerga na atual crise mundial diante desta epidemia a possibilidade de uma nova ordem social e humanitária, com um novo olhar sobre preocupações mais sociais, de saúde e do meio ambiente? Qual sua avaliação sobre esse tema?

Como já dito, a sociedade sempre esperou que as empresas tivessem esse valor e, sem dúvidas, com essa crise, essa expectativa da sociedade apenas se enfatizou.