Nada mais oportuno para discutir o dia internacional do trabalho como os dias atuais; afinal, em tempos de pandemia, o trabalho enfrenta novos desafios e ressignificados, isto é, fazer com que pessoas possam atribuir novos significados ao valor do trabalho em meio a um processo global de confinamento social diante de uma pandemia.
Nunca se falou tanto em home office, delivery, flexibilidade de horário, banco de horas, negociação individual, reuniões virtuais em várias tecnologias, videoconferências multipontos, reuniões a distância com vários participantes em locais diferentes com qualidade e eficiência – pois permitem o compartilhamento de conteúdo e das telas, trabalho em rede em um processo de avaliação sistêmico permanente num mundo cada vez mais digital e de controle.
Ferramentas como WhatsApp, Teams Microsoft, Google Hangouts, Zoom entre outras, oferecem sistemas que permitem até mil participantes nas reuniões, como é o caso do aplicativo Zoom.
E o que isso tem a ver com o 1º de maio?
Tudo! Afinal, qual é o real significado do trabalho hoje em dia? O que podemos definir como trabalho produtivo? É trabalho somente o que gera riqueza? É trabalho, somente quando há presença física do trabalhador em seu local de trabalho? Afinal, o trabalho é ou não determinante para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade? Qual é o tamanho e a importância das novas tecnologias para o mundo do trabalho?
São perguntas que certamente trarão muitas respostas, mas há algo que não podemos deixar de notar: o trabalho está passando por uma transformação de ressignificados.
Muito embora a palavra trabalho tenha sua origem no vocábulo latino “Tripallium”, isto é instrumento de tortura formado por três (tri) paus (pallium), não podemos dizer que trabalhar seja uma tortura.
Mas podemos afirmar que há trabalhos que de fato parecem uma verdadeira tortura.
E isso ocorre, não em razão do trabalho, mas muito mais pelas condições com as quais certos trabalhos são executados.
Vivemos um momento de precarização do trabalho, não somente do ponto de vista estrutural, mas mental, dadas as incertezas que vivemos especialmente se levarmos em consideração países menos desenvolvidos.
Ao longo da história, o significado de trabalho tem sido associado a diferentes valores sociais – positivos e negativos; e a diferentes sistemas sociais, mas ainda assim existe algo comum a qualquer sociedade: sem o trabalho não há desenvolvimento, não há riqueza, não há progresso social e/ou tecnológico!
Afinal, o trabalho é o único meio de transformar a nossa realidade e gerar valor!
Se o trabalho gera valor e é um valor social, então porque o trabalho enriquece e desenvolve uma minoria?
E, exatamente porque seu valor é resultado da extração do excedente daquilo que é produzido e pago pelo trabalhador, uma pequena parte da riqueza que esse produziu destina-se a ele , pois a maior parte fica com quem detém os meios de produção , ou seja, o capitalista.
Tem sido assim desde a criação do sistema capitalista.
Certamente isso não é novidade, desde Ricardo e Marx já sabíamos disso.
Mas então porque estou falando de algo que já foi tão explorado pela economia e sociologia?
Muito embora reconheçamos nas análises de David Ricardo e Karl Marx a compreensão do modo de produção capitalista e suas formas de exploração, há um elemento novo na sociedade atual que vem mudando gradativamente essa interpretação do capitalismo.
Naturalmente ainda não podemos afirmar, mas está havendo uma mudança sobre a perspectiva com que todo meio de produção faz parte da propriedade do capital para extrair o excedente do trabalho executado, e que em razão dessa dominação, concentra a riqueza.
Onde quero chegar, se os meios de produção, isto é, se as ferramentas para a execução do trabalho para gerar a riqueza, que é resultado do trabalho, pertencem ao capitalista como sua propriedade, com as novas tecnologias, esses meios estão sendo transferidos como paradoxos não apenas ao trabalhador, mas até mesmo aos consumidores.
O que quero dizer com isso? Muito simples, quando um banco, por exemplo, nos permite manipular um aplicativo para realizar diversas operações bancárias sem precisar ir a uma agencia ou utilizar os serviços de um funcionário, este está trabalhando de graça para o banco.
Isso mesmo! Veja o que acontece, o banco através do seu capital investe cada vez mais em tecnologia e quanto mais avançada for essa tecnologia, mais trabalho imaterial existe nessa relação; isso quer dizer que o capital está transferindo os meios de produção para o trabalhador e para o consumidor sem transferir o excedente da riqueza advinda desse trabalho imaterial.
Por isso a riqueza está se tornando cada vez mais concentrada e acelerada no mundo.
Quanto mais tecnologia houver no processo de produção e de transferência dos meios de produção ao trabalhador e ao consumidor, passando a ideia de controle desses meios e poder sobre os acessos, maior se torna a concentração de riqueza dos que detêm, não os meios de produção, mas a centralização da informação.
É provável que em um futuro próximo, o 1º de maio não seja mais o dia comemorado maciçamente pelo mundo como já assistimos em outros tempos – já que o trabalho está se fragmentando e se dispersando em meio à transferência dos meios de produção – isto quer dizer que há uma forte tendência de que no futuro próximo tenhamos milhões de patrões e poucos empregados, sem, no entanto, ter a transferência do excedente da riqueza produzida.
Seremos uma sociedade de patrões sem riquezas, já que essa riqueza estaria assim, concentrada cada vez mais nas mãos de algumas dezenas de pessoas no mundo.
Segundo a Oxfam (Organização não Governamental), dados mostram que as 26 pessoas mais ricas do mundo detêm a mesma riqueza dos 3,8 bilhões de pessoas mais pobres, que correspondem a 50% da humanidade.
A fortuna dos bilionários aumentou 12% em 2018, o equivalente a US$ 900 bilhões (cerca de R$ 3,37 trilhões), ou US$ 2,5 bilhões por dia, conforme a Oxfam.
A metade mais pobre do planeta, por outro lado, teve seu patrimônio reduzido em 11% no mesmo período.
Por fim, entendo que cada vez mais a riqueza é recompensada e menos se recompensa o trabalho, ou seja, não mais podemos dizer que o que gera riqueza seja o trabalho, mas a riqueza transforma o trabalho em riqueza cada vez mais concentrada e desumana!