Desde o início da pandemia de Covid-19, cientistas em todo mundo investigam as diferentes maneiras que o vírus SARS-CoV-2 afeta o organismo humano. Parte dessas pesquisas considera se os diferentes grupos sanguíneos (A, B, AB e O) podem ter papel relevante diante da Covid-19. Vários estudos estão sendo feitos sobre o assunto em diferentes países, mas não há consenso entre a comunidade científica, até o momento, sobre a relação entre os diferentes tipos de sangue e questões-chave como a capacidade de infecção pelo vírus, o agravamento da doença e o risco de morte.
No Brasil não é diferente e estudos sobre o tema estão sendo realizados, um deles pelo Hemocentro de Goiás (Hemogo). Este estudo é um braço de outro, que analisa o plasma convalescente (doado por recuperados da Covid-19) para auxiliar na recuperação daqueles que ainda estão com a doença. No estudo, os pesquisadores analisaram o sangue de 98 doadores de plasma convalescente e fizeram uma relação para saber a gravidade que o vírus os infectou e o tipo sanguíneo.
Ao contrário de outros estudos, como o do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), que avaliou 72 pessoas e indicou que aquelas do tipo sanguíneo A possuem um risco 2,5 vezes maior de gravidade para o coronavírus, na comparação com tipo O, a pesquisa goiana não teve essa identificação. Dos 98 pacientes, a maioria era do tipo sanguíneo O, e em segundo lugar, do tipo sanguíneo A, que é a distribuição na nossa população. Desta forma, o estudo não conseguiu confirmar a ideia de que todos os pacientes que não têm o anticorpo anti-A estariam em maior risco.
Na avaliação de quadros graves, a equipe descobriu que a maior prevalência era de pacientes com sangue tipo AB, enquanto nenhum paciente do tipo sanguíneo A precisou de internação, indo de encontro aos resultados de outros estudos, como um conduzido por pesquisadores da Universidade de Utah, do Intermountain Medical Center Heart Institute e da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que considerou cerca de 107 mil pacientes, revelou que o tipo sanguíneo não está associado a um maior risco de contrair Covid-19.
É provável que um dos fatores que não permitiram a pesquisa do Hemogo ter uma conclusão definitiva foi o número pequeno de pacientes avaliados. Outra questão é que a população de doadores é mais selecionada, em geral, pacientes do grupo O têm mais tendência a doar, porque existe a ideia de que este é o melhor sangue para a doação. Então, mais estudos se fazem necessários, uma vez que a literatura médica ainda não conseguiu confirmar a associação entre tipo sanguíneo e risco para Covid-19.
Neste momento, não é necessário que as pessoas se preocupem com o tipo sanguíneo que possuem. Como há a necessidade de mais estudos, não se pode introduzir nada relacionado a este tema na prática clínica. Pacientes de qualquer tipo sanguíneo ainda não devem se preocupar. Já é comum que muitos pacientes cheguem ao consultório perguntando se por ser do tipo A são do grupo de risco, mas ainda não é a questão de modificar uma conduta em relação à isso.
Outros fatores de risco têm um peso muito maior e mais importância, como doença coronariana, trombose prévia, diabetes. Várias pessoas do tipo A não precisaram internar, tiveram uma doença leve, sem complicações, e várias pessoas do tipo O tiveram doenças mais graves também. Hoje em dia, esses estudos servem para a gente melhorar nosso conhecimento sobre o genoma viral, para poder construir drogas melhores, drogas alvo na nossa luta contra o vírus, mas ainda não devem ser motivo de preocupação.