Não é de hoje que o número de pessoas que lidam com problemas relacionados à saúde mental nos mostra que a sociedade lidava com uma “pandemia global” devido à incidência – embora com uma subnotificação clara – de casos como depressão, distúrbios de ansiedade e burnout. Há um mês, aproximadamente, a Organização Mundial da Saúde soltou um alerta para a crise de saúde mental. Ao apresentar um relatório e a diretriz da agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito da covid-19 e da saúde mental, Devora Kestel, diretora do departamento de saúde mental da OMS, disse que haverá um aumento no número e na gravidade de doenças mentais é provável, e que os governos deveriam colocar a questão “na linha de frente” de suas reações.
O portal do Instituto Bem do Estar, negócio social do qual sou cofundadora, teve seus acessos triplicados, desde o final de março. Uma frase que perdi a conta de quantas vezes a proferimos e escrevemos, nos últimos três meses é: “Se falar sobre saúde da mente já era essencial, durante e após uma pandemia fica inadiável!” Fico me perguntando: será que a sociedade irá olhar com o mesmo senso de urgência, solidariedade e apoio esta crise na saúde mental, como a pandemia causada pelo coronavírus?
Porém, não é sobre essa minha indagação, quase que uma certeza, que venho falar aqui e sim da importância; é hora de nos agarrar a possibilidades de mudanças urgentes de comportamento, como o resgate de valores essenciais para a convivência contemporânea; mudanças em relação ao consumo desenfreado, ao uso indiscriminado dos nossos recursos naturais – ouvindo os gritos da natureza e aos hábitos saudáveis, principalmente, no que tange aos de higiene. Porém, nada disso será possível se não olharmos para um ponto fundamental e que somente dependem de nós mesmos e está totalmente interligado à saúde da mente e à saúde integral.
Autoconhecimento
Temos a oportunidade de desacelerar e olhar a nossa vida com mais tempo e mais compaixão. A dica é aproveitar a quarentena para se conhecer, se descobrir, se valorizar. Seu futuro irá te agradecer. O convite que o momento nos faz está claro: dar-nos a oportunidade de nos reconectar – conosco e com os outros; e pensar melhor em nossos planos. Mas como parar para cuidar de nós em meio ao tsunami de informações e do medo diante do futuro incerto? Uma dica: separe alguns minutos no final de cada dia para escrever e refletir sobre a maneira como despende o próprio tempo com cada atividade – desde a meia hora que ficou enviando e-mails, até duas horas assistindo Netflix. No final da semana, observe o tempo gasto com cada atividade e perceba quais os sentimentos você tem com cada uma delas e, principalmente, o que sente falta.
Muitas atividades consideradas “simples” poderiam ser executadas em menos tempo, caso não houvesse outra distração. Será que se praticar atenção plena, ou seja, fazer uma única atividade com total atenção nela, você não ganharia mais tempo para praticar algum exercício, ler um livro ou qualquer outra atividade que te traga prazer? Pense nisso, lembre-se que não adianta se “atolar” de tarefas e não separar um “respiro” para você.
Para começar a praticar essa nova visão e mudar o seu olhar, desafio os leitores a pensar em três momentos, referentes à própria vida ou do mundo, e elencar pontos positivos e negativos; convido-os todos os dias – ou naqueles dias tidos como ruins –, que tentem enumerar pelo menos duas gratidões daquele dia.
Vamos, todos, trocar as lentes – com as quais têm olhado para o isolamento social – para ver que é possível enxergar pontos positivos deste momento.