De acordo com o Código Brasileiro de Ocupações (CBO-7825), Caminhoneiros e Caminhoneiras são todos aqueles condutores (as) de Transportes de Carga em geral e para a ação do lançamento/entrega do Cartão de Saúde do Caminhoneiro (a), de Acordo com a Nota Técnica oriunda do Ministério da Saúde (MS), nº 08/2020-COSAH, habilitados nas categorias “D” e “E” .
Esses profissionais que atuam no mercado de trabalho são essencialmente compostos pelo público masculino. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizada entre os dias 28 de agosto e 21 de setembro de 2018, revela que 99,5% desses profissionais são do sexo masculino e a média de idade deles é de 44,8 anos. Além disso, eles ganham cerca de R$ 4.600 (quatro mil e seiscentos reais) por mês e trabalham há 18,8 anos. Foram entrevistados mais de mil profissionais em todo o país, sendo 714 autônomos e 352 empregados de frota.
A rotina da jornada de trabalho dos caminhoneiros (as) é intensa, chegando a rodar mais de 9 mil km por mês, somando 11,5 horas por dia e 5,7 dias por semana. Entre os pontos negativos da profissão, estão o fato de ela ser perigosa/insegura (65,1%) e desgastante (31,4%) e de o convívio familiar estar comprometido (28,9%).
Mesmo assim, os caminhoneiros ainda relatam vários pontos positivos no trabalho, como conhecer cidades e países (37,1%), ter a possibilidade de conhecer pessoas (31,3%) e possuir o horário flexível (27,5%).
Uma das características desses profissionais é ser itinerante, e por isso o cuidado à saúde pode ser prejudicado, carecendo de ações que possibilitassem o acesso aos serviços de saúde independentemente da sua localização.
Percebe-se que este público em geral está exposto às atividades extenuantes, com longas jornadas diárias de trabalho e condições inadequadas de ergonomia, promoção ou manutenção da saúde, atrelado de maus hábitos alimentares, inatividade física, péssima qualidade de sono, uso indiscriminado de substâncias psicoativas e a solidão.
Acrescentam-se a esses fatores às más condições de trabalho, como pressão dos horários para a entrega de mercadorias, insegurança nas paradas para pernoite, sono prejudicado principalmente pela falta de rotina para descanso e a maioria ainda dorme na boleia do caminhão.
Na população de caminhoneiros (as), o sobrepeso e a hipertensão aparecem como problemas significativos. Vários destes profissionais se alimentam em restaurantes à beira de estrada, expostos à maior oferta de alimentos de alto valor calórico, sódica e baixo valor nutritivo. Soma-se a isso, a alta exposição a bebidas alcoólicas e o sedentarismo, que podem agravar doenças pré-existentes como as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), e acelerar a ocorrência de doenças como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico, sendo que algumas dessas doenças crônicas tendem a ser mais prevalente na população masculina.
O MS por meio da Coordenação de Saúde do Homem, da Coordenação de Ciclos de Vida, do Departamento de Ações Programática Estratégicas, da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (COSAH/CGCiVi/DAPES/SAPS/MS) preocupados com esses profissionais quanto ao cuidado à saúde, com foco na população masculina, e neste caso, contemplando, também, a população feminina de profissionais caminhoneiros (as), visa ampliar a presença desses homens e mulheres nos serviços de saúde com ênfase na Atenção Primária à Saúde (APS).
A partir desta perspectiva o MS elaborou o Cartão de Saúde do Caminhoneiro e da Caminhoneira (CSCC) com o objetivo de facilitar o acesso desses profissionais nas Unidades de Saúde da APS, de modo que, ao apresentar este cartão, o usuário possa ser atendido e ser direcionado para os cuidados que necessitar dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) independentemente do seu Código de Endereçamento Postal (CEP).
O MS tem o propósito de ampliar a presença de homens e mulheres nos serviços de saúde, com ênfase na Atenção Primária à Saúde (APS), de maneira a favorecer maior adesão aos programas já existentes, aumentando a resolutividade dos seus problemas e construindo espaço para que as suas especificidades de gênero sejam conhecidas e reconhecidas como uma marca identitária pela Rede de Atenção à Saúde do SUS – respeitando os diferentes níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão.
O Cartão de Saúde do Caminhoneiro se apresenta em forma de caderneta subdividido em seções como:
- Identificação pessoal;
- Apresenta uma tabela com um mini questionário sobre as condições de saúde do usuário com respostas simplificadas (“sim” ou “não”) sobre: pressão alta; diabetes mellitus; sobrepeso, entre outros;
- Apresenta uma tabela para preenchimento (anotações) sobre avaliação do estado de saúde do usuário (pressão arterial; glicemia capilar; peso; altura; IMC; circunferência abdominal);
- Apresenta uma tabela sobre Calendário de Vacina (para atualização das vacinas);
- Medicamentos em uso;
- Resultados de Exames;
- Evolução de risco cardiovascular;
- Odontograma; e
- Outros registros de outras informações pertinentes ao usuário.
Observação: O Cartão de Saúde do Caminhoneiro (a) não substitui o Cartão Nacional de Saúde (Cartão do SUS).
Além das seções expostas, o CSCC apresenta recomendações para que os Caminhoneiros (as) possam se cuidar melhor como:
- Antes de se alimentar, higienize as mãos com água e sabão e na ausência destes use álcool a 70%;
- Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados;
- Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades;
- Consuma alimentos saudáveis, como frutas, verduras e legumes;
- Evite alimentos ultra processados, que são aqueles que sofrem muitas alterações em seu preparo e contêm ingredientes que você não conhece;
- Coma regularmente e com atenção. Prefira alimentar-se em lugares tranquilos e limpos e na companhia de outras pessoas (respeitando as regras do momento pandêmico);
- Beba pelo menos dois litros de água por dia;
- Controle seu peso;
- Pratique exercícios físicos com regularidade;
- Faça alongamentos nas horas de descanso e opte por apoios no encosto para a coluna;
- É garantido por lei, aos motoristas, o repouso de 11 horas por dia, além do descanso de 30 minutos a cada 4 horas ininterruptas de direção;
- Converse sobre seus problemas e preocupações com seu/sua parceiro (a), familiares, amigos e/ou profissional de saúde;
- Peça ajuda quando se sentir sobrecarregado (a) por alguma situação de estresse;
- Escove os dentes e faça uso do fio-dental diariamente, sempre após o término das refeições, e visite regularmente o dentista;
- Utilize camisinha em todas as relações sexuais;
- Evite fumar e consumir bebidas alcoólicas e outras drogas;
- Consulte o oftalmologista anualmente.
A impressão e distribuição do CSCC será realizado pelo o Ministério da Saúde em parceria com o Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT) respectivamente nas 27 unidades federativas do país.
É um direito de todos cuidar da saúde e o Estado deve prover e criar condições para contemplar todos os usuários do SUS, e assim cumprir com o que preconiza nosso sistema de saúde, que mesmo com todos os seus percalços ainda é um dos melhores sistemas de saúde pública do mundo.
Que boa iniciativa do Ministério da Saúde e sua também pelo trabalho e pesquisa.
Parabéns pelo escolha do tema. Assunto pertinente e de fato essa população carece de cuidados especiais e o Brasil deve, sim, isso a eles e elas.