
crise-hidrica
Qualquer que seja a região do país na qual você vive, deve ter percebido as recentes mudanças climáticas que vêm sendo noticiadas.
Vivemos um período de extremos, em que se vê longos períodos de seca na região centro-sul do país, dividindo espaço com a maior cheia do rio Negro em 119 anos. A preocupação com as chuvas, vai além dos imediatos problemas sociais e estruturais que as cidades enfrentam, fica também a pergunta: estaremos preparados para o próximo evento?
Em 2001, o Brasil experimentou uma amarga experiência, na qual os níveis de água nos reservatórios estavam tão baixos, que levaram o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a realizar cortes estratégicos no fornecimento, os famosos apagões. Na ocasião, a dependência das hidrelétricas para a produção de energia elétrica, era de aproximadamente 85%.
Em 2015, um apagão deixou parte de 10 estados sem energia. Ação tomada pelo ONS, para evitar o colapso do sistema, uma vez que um pico de consumo poderia ultrapassar a capacidade de produção de energia.
Hoje, vivemos uma grave crise hídrica e somos novamente ameaçados pelo “fantasma do apagão”. No último mês, em entrevista à imprensa internacional, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, garantiu não haver riscos de racionamento.
Afinal, o que o país aprendeu com isso? Quais são as ações que podem evitar este problema em eventos futuros?
Desde a crise de 2001, a construção de termelétricas passou a ser uma prioridade, pois a dependência de uma única fonte nos mostrou um ponto fraco. Hoje, a produção de energia elétrica no país se divide em aproximadamente 57,95% proveniente das usinas hidrelétricas, 24,99% das termelétricas e o restante é dividido entre as demais fontes, com destaque para a energia eólica que contribui com 10,47%, após a ampliação concluída no primeiro semestre deste ano.
Devido às proporções continentais do nosso país, um grande desafio é a interligação do sistema elétrico. Portanto, a ampliação das linhas de transmissão aumenta significativamente a segurança, visto que há uma cooperação de todas as fontes de energia para um mesmo propósito. Segundo o ministro, essas linhas de transmissão passaram de 70 mil quilômetros, para 170 mil quilômetros nos últimos 20 anos.
No dia 6 de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) confirmou a aprovação de um investimento de R$ 2,7 bilhões para construir e prestar manutenção nas linhas de transmissão de quatro estados. Dentre os objetivos, está a solução para o atendimento elétrico da região de Macapá, que sofreu 22 dias de racionamento de energia no final de 2020.
Ainda há muito o que explorar da energia fotovoltaica (solar), que atualmente contempla apenas 1,89% da produção nacional. O Brasil possui condições muito favoráveis para o sistema de geração distribuída que, poderia nos colocar na liderança mundial de geração por energias renováveis. Esse sistema possibilita a geração descentralizada, através da micro e minigeração, mas ainda esbarra em altos custos e na burocracia.
Há três meses consecutivos, o consumidor vem pagando um acréscimo de R$ 9,49 para cada 100 quilowatts-hora (kWh), em decorrência da bandeira vermelha, patamar 2. Este valor é um repasse do aumento nos custos de geração, em função das condições desfavoráveis.
Estamos longe de resolver o problema, mas, conhecemos o caminho. Há uma necessidade enorme de investimento na gestão dos recursos hídricos com ampliação e melhor uso dos nossos reservatórios, pois essa carência é conhecida e novas crises são previsíveis. Além disso, um sistema interligado mais robusto, assim como o estímulo e fácil acesso à geração distribuída, podem nos livrar da dependência das hidrelétricas e das crises recorrentes.
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