Todo segmento profissional apresenta em seu processo produtivo e/ou tecnológico, riscos que são inerentes à atividade e neste contexto, a eletricidade está presente em qualquer meio produtivo, oferecendo um perigo que é invisível aos nossos olhos, ou seja, o chamado risco elétrico.

Em tais atividades infelizmente ainda falta informação e capacitação, de modo que a não observância das medidas preventivas frente a este risco, contribui para consequências que vão desde graves lesões até mesmo a morte.

Neste sentido, a gestão da saúde e segurança no trabalho no setor elétrico seja ele de baixa tensão (empresas consumidoras) ou alta tensão (geração, transmissão e distribuição, aqui entendido o SEP – Sistema Elétrico de Potência), inclui a adoção de meios de controle que passam pela atualização de documentos, procedimentos e análises de risco, bem como pela determinação de condições de segurança para que o trabalhador seja autorizado a exercer as atividades nestas instalações.

É importante considerarmos que a NR10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade estabelece algumas condições para o exercício das atividades, considerando assim a qualificação, habilitação, capacitação e autorização do trabalhador, tudo isso obviamente amparado pelo emprego de proteção coletiva e individual.

É fato que a maior parte dos acidentes no setor elétrico estão diretamente relacionados à baixa percepção de riscos aliada a uma capacitação normativa que ainda é deficiente. Mas também temos que considerar que já houve evolução frente ao que preconiza a NR10. Porém, não podemos ignorar que muitas empresas principalmente as de pequeno porte e que são maioria, ainda precisam evoluir muito no que diz respeito ao fornecimento de uma maior proteção aos seus trabalhadores.

 

Riscos

Quando falamos da baixa e da alta tensão, logo chama a atenção a segunda pelo fato de ser mais temida, mas há de se considerar que a baixa tensão apresenta um potencial de risco elevado haja visto o risco de choque elétrico por contato direto já que muitas atividades são realizadas com equipamentos energizados dentro da chamada zona de risco.

Perceber a realidade dos riscos envolvidos nestas atividades é fundamental para evitar lesões corporais, perturbações funcionais e até mesmo a morte resultantes de acidentes ocasionados pela eletricidade quando não observados os procedimentos e análises de riscos dessas atividades.

Cabe ressaltar que temos hoje uma gama de trabalhadores envolvidos com as atividades relacionadas à eletricidade, destacando-se os eletricistas e técnicos que estão diretamente ligados à execução dos trabalhos e portanto efetivamente expostos. Porém, há também aqueles que não lidam diretamente com carga elétrica, mas eventualmente precisam testar um equipamento e assim ficam expostos em virtude da proximidade caso o circuito elétrico não esteja segregado ou não impeça o contato do trabalhador com as partes vivas, o que acaba também ocasionando um alto índice de acidentes.

Assim, torna-se fundamental o estabelecimento de medidas de proteção coletiva que compreendam a desenergização elétrica e na sua impossibilidade, o emprego de tensão de segurança ou extra baixa tensão, sendo esta a tensão máxima a que uma pessoa pode ser exposta sem que sofra um choque elétrico. Porém, na prática muitas vezes isso não ocorre para que não se interrompa o processo, obrigando que o trabalhador tenha que executar a atividade em circuitos energizados e consequentemente ficando mais exposto ao risco, sem contar que além disso, a baixa percepção de risco bem como a pouca qualificação, acabam contribuindo para o aumento das ocorrências de acidentes.

 

Oportunidades

Para que o trabalho possa ser desenvolvido de maneira segura, é necessário que o trabalhador conheça não só os riscos, mas também as medidas preventivas que deverão ser adotadas. Mapear as atividades e desenvolver um passo a passo no que diz respeito aos procedimentos para a execução das ações onde se tenha claramente definido os recursos humanos e materiais, as orientações de segurança e os meios que impeçam a realização destes trabalhos quando não oferecerem as condições mínimas de segurança é fundamental.

É necessário que empregadores e empregados estejam alinhados no que diz respeito à aplicação de procedimentos padronizados e incluam em seus processos uma avaliação detalhada dos riscos, priorizando a sua neutralização através da descontinuidade elétrica total, o chamado seccionamento. Assegurar o controle sobre o seccionamento e garantir que não ocorra a sua reversão, passa obrigatoriamente por um sistema que permita a aplicação do chamado LOTO (lockout e tagout) que é realizado através da aplicação de travamentos que bloqueia o sistema. Na sequência, com o uso de medidores devidamente testados, é necessário que se constate a ausência de tensão no circuito. Verificada a ausência de tensão, deve-se proceder ao seu aterramento com equipotencialização de todos os condutores que compõem o sistema.

Na impossibilidade de se desenergizar os elementos constantes da zona controlada, total atenção deverá ser dispensada a estes que deverão ser protegidos com isolação adequada.

Por fim e não menos importante, total atenção deverá ser aplicada à sinalização, sendo que a identificação da desenergização deverá ser clara, além de permitir a efetiva comunicação que impeça a energização e garanta a segurança de todos que direta e indiretamente estejam envolvidos nas atividades.

Além de todas as medidas administrativas citadas anteriormente e que fazem parte do arcabouço que visa garantir a proteção coletiva daqueles que trabalham com eletricidade, de igual modo é também importante considerarmos as medidas que envolvam a proteção individual dos trabalhadores do setor. O uso dos EPI’s deve ser estabelecido por meio de análise de risco específica visando a indicação mais assertiva possível, considerando-se os seguintes níveis de proteção: para a face, capacete com visor e balaclava; para os braços, mangas isolantes; para o corpo, camisa, calça ou macacão com no mínimo 8 cal/cm²; para as mãos, luvas isolantes sobrepostas com luvas de vaqueta e para os pés, os calçados isolantes.

Dessa forma, entender a realidade dos perigos do local de trabalho e não minimizar os riscos envolvidos nas atividades que envolvam eletricidade é primordial para que se garanta a integridade física de todos que lidam direta ou indiretamente com este agente.