O século XXI viu uma nova mudança de paradigma. Nas décadas de 80/90 as pessoas com mais de 50 anos se tornavam velhas para o mercado de trabalho. Hoje observamos muitas áreas de atuação onde, com mais de 40 anos, o profissional já é visto e avaliado como velho.
Por conta da mudança na utilização de sistemas, aplicativos, procedimentos, percebemos que essa mudança de paradigma fez com que essa idade fosse mais uma vez antecipada.
Uma das consequências disso é que a partir de 2005, nós observamos que as pessoas têm sido dispensadas das empresas com uma grande dificuldade de reinserção no mercado. Não por não serem competentes, muitas vezes ouvindo aquela máxima de que a pessoa é boa demais para o trabalho em questão que está disponível.
Mas, devido à falta de opção, as pessoas vão nivelando, vão diminuindo o padrão de exigência. Uma questão importante de se avaliar é que a pessoa com mais de cinquenta anos tem um sistema de crenças, de padrões comportamentais extremamente estabelecido. O que algumas vezes dificulta a integração com procedimentos mais flexíveis, porque a pessoa automaticamente acaba tendo um discurso do tipo “eu já fiz ou eu já vi na minha época porque era assim”. Então esse padrão de comunicação e de relacionamento faz com que se criem barreiras entre pessoas de 35 e 50 anos de forma sistemática no mundo corporativo.
Um movimento que passa a ganhar cada vez mais força e que eu tive o privilégio de iniciar e ser um dos pioneiros no Brasil é o Empreendedorismo Sênior. Por meio da observação de pessoas montando negócios ou ajudando integrantes das suas famílias a montarem negócios próprios a partir dos cinquenta anos porque não conseguiu se reinserir no mercado ou simplesmente porque via a possibilidade de montar, crescer, desenvolver, aprimorar e investir num novo negócio.
O Empreendedorismo Sênior foi apresentado no Brasil pela primeira vez na UNICAMP, em um congresso na celebração do Dia do Idoso. Eu apresentei esse conceito que foi desenvolvido a partir de estudos já ligados a outro conceito chamado Longevidade Produtiva que tem por objetivo ajudar as pessoas a prevenirem doenças degenerativas como mal de Alzheimer.
É fundamental que as pessoas com mais de 50 anos mantenham o seu cérebro ativo e esses estudos permitiram com que se chegasse à conclusão de metodologias como o cérebro produtivo ou longevidade produtiva, pois todo mundo deseja ter uma longevidade saudável e para alcançá-la é necessário ter uma longevidade produtiva.
O Empreendedorismo Sênior surgiu a partir de uma pesquisa apresentada em 2016 que apontou que mais de 50% das empresas que foram abertas no estado de São Paulo foram constituídas por pessoas com mais de cinquenta anos. Isso já mostrava uma tendência de virada do mercado apontando para um novo segmento extremamente influente, com grande capacidade de aquecer ainda mais o motor da economia nacional com um público altamente qualificado para prestar serviços dos demais diversos, nas mais diversas áreas e com know-how diferenciado.
Isto inclusive foi tema do Primeiro Congresso de Empreendedorismo Sênior na UNICAMP em 2018. Hoje já se discute este assunto em várias instâncias exatamente pela dificuldade de reinserir as pessoas com mais de 50, 60 anos no mercado de trabalho.
É importante observar que, muitas vezes, a pessoa quer trabalhar por necessidade de ocupar seu tempo, ou pela necessidade financeira. No Brasil, há mais de 50 milhões de pessoas com mais de cinquenta anos. Isso torna esse público extremamente marcante e que deve ter uma voz cada vez mais ouvida nas mais diversas instâncias, seja ela no âmbito federal, em instâncias públicas ou privadas.
A geração Baby Boomer, nascida entre 1945 e 1968, é a geração que transformou tecnologicamente o mundo, onde estão inseridos Steve Jobs, Bill Gates, entre tantos inovadores responsáveis pela transformação drástica nos padrões de interação social, de processamento de informação e na forma pela qual a tecnologia transformou as relações humanas.
Imaginando que as pessoas viveram na época analógica e hoje vivem a era digital, essa geração não quer mais se aposentar, não deseja mais ir para o aposento. O que essas pessoas desejam é parar uma atividade para começar outra. Dessa forma, quando o indivíduo se aposenta e faz uma transição de carreira buscando novas atividades porque atualmente a idade média aumentou para 76 anos, sendo 79 para a mulher e 71 para o homem. É importante lembrar que na década de 1940, a longevidade não passava dos 45 anos. O aumento da longevidade fez automaticamente com que novas formas de mercado e relacionamentos fossem criados.
Eu, particularmente, não gosto da palavra idoso. Criei um conceito para denominar as pessoas com mais de 50 anos que chamo VES – Vivido, Experiente e Sábio. Costumo dizer que, se com mais de cinquenta você não se tornou VES peça para reencarnar porque nessa vida você não vai mais conseguir se tornar vivido, experiente e sábio.
Muitas pessoas ainda têm no emprego sua única possibilidade e isso vai se tornar cada vez mais difícil. Então empreender, seja empresarialmente, seja em um novo negócio ou empreender socialmente, vai ser fundamental e uma grande opção para as pessoas com mais de cinquenta, sessenta anos. Lembrando que nos próximos 20 anos, a base da pirâmide etária será formada por pessoas com mais de 50 anos.
É fundamental que as pessoas estejam abertas e receptivas às possibilidades. Sempre valorizando e entendendo o risco porque a maioria não tem mais tempo para recuperar. O cuidado com o que ela vai fazer com o dinheiro que juntou deve ser redobrado.
O Empreendedorismo Sênior tem uma série de métricas que ajudam e foram criadas exatamente para ajudar as pessoas a diminuir o seu risco de perda e maximizar o seu potencial de resultado. O sênior ou VES é um indivíduo extremamente capaz de continuar contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, independente do país e, mais importante que isso, ele pode ser, se for levado a sério, respeitado e ouvido, uma grande ferramenta de transformação mercadológica.
Alguns locais no Brasil já mudaram a imagem que descrevia o idoso como aquele velhinho curvado com a bengala. Hoje o símbolo adotado para denotar as pessoas com mais de 50 anos é 50+, 60+. Seja você sênior, 50+ ou 60+, você tem, na realidade, mais vinte ou trinta anos para construir uma nova história. Aproveite.
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