A pandemia do Covid-19, o cenário de incertezas e a consequente disrupção gerada em todos os setores da economia têm colocado uma pressão sem precedentes em todos os líderes e colaboradores.
Neste contexto, escutamos cada vez mais em nosso dia a dia o termo resiliência, uma característica imprescindível para se conseguir navegar no cenário que nos encontramos.
Na engenharia, a resiliência é a capacidade de um material absorver energia e retornar ao seu estado original – como uma borracha que é pressionada, se adapta e encolhe, mas que retorna, uma vez que a pressão deixe de existir.
Para as lideranças, equipes e organizações, a resiliência é a capacidade de se adaptar positivamente a uma situação de pressão e se recuperar de um cenário de adversidade de forma mais rápida.
Líderes e organizações resilientes estão mais preparados para a saída da crise, pois foram capazes de aprender e se transformar, em um novo contexto.
Neste último ano desafiador, líderes que conseguiram sustentar os seus níveis de resiliência foram mais eficazes em transmitir energia, foco e motivação para suas equipes. Consequentemente, suas organizações se adaptaram mais rapidamente, conseguiram reter seus talentos e devem sair da pandemia mais fortes do que se encontravam antes dela.
Na nossa jornada em apoiar indivíduos e clientes a lidar com as adversidades geradas pela pandemia, trabalhamos em um conjunto de dimensões para fortalecer a resiliência de cada indivíduo e, consequentemente, das organizações, com um conjunto de ferramentas e processos que estimulam a curiosidade, o auto-conhecimento e a colaboração, fundamentais para superar um momento de crise.
Mas, como fortalecer a minha resiliência? Como me tornar preparado para a adversidade? Como estimular minha equipe a se manter energizada? Abaixo, um breve resumo de dimensões-chave para ativar a resiliência individual e da equipe:
1. Assegurar o auto-cuidado
Atletas de alta performance alternam períodos de alta energia e performance, como um torneio importante, com períodos de menor performance e intensidade, visando se recuperar até a próxima situação, onde terão que dar o seu máximo.
Eles se cuidam e se preservam para que estejam preparados para um próximo desafio.
Atletas “corporativos”, muitas vezes operam em um elevado nível de intensidade e adrenalina por longos períodos de tempo, trabalham de segunda a segunda, se esquecendo de se preservar e se renovar, o que muitas vezes pode levá-los ao Burnout.
Neste contexto, o autocuidado proporciona a habilidade de sustentar a energia por longos períodos de tempo, sendo muito mais do que simplesmente ter hábitos saudáveis, como comer bem e se exercitar.
Pessoas resilientes prestam atenção ao que é importante para elas, ao que gostam, ao que sentem e ao que as energiza.
Elas reconhecem os seus limites, sabendo o que precisam fazer para se sentirem bem e, mesmo em períodos de elevada intensidade, asseguram-se de que tenham tempo para si mesmas e para seus momentos de prazer e satisfação.
Esta talvez seja a dimensão mais importante de resiliência. Como indivíduo é importante reconhecer o que é importante para você – e assegurar tempo na agenda para ter um compromisso consigo mesmo.
Para suas equipes é importante incentivar momentos de celebração, de descompressão e respeitar também os sinais e necessidades de cada membro da equipe. Isto deixará todos mais preparados para a próxima situação de stress e intensidade.
2. Cultivar uma rede de suporte
Suporte social é a capacidade de indivíduos de manter ativo um sistema e uma rede de pessoas que são capazes de oferecer apoio social e emocional. São pessoas que se importam com você e que o fazem se sentir bem, se sentir conectado e feliz.
Muitas vezes, com as demandas intensas de trabalho deixamos de lado esta rede, nos desconectamos das pessoas, acreditando que precisamos nos manter 100% focados em nosso trabalho e tarefas para alcançar os objetivos, entregar as metas, e superar um período adverso.
Entretanto, prestar atenção e assegurar tempo para esta rede é um aspecto fundamental da resiliência.
Poder contar com este apoio, de quem muitas vezes nos conhece muito bem, convidá-los a participar das nossas jornadas ajuda a fortalecer o sentimento de segurança e confiança em tempos confusos e ambíguos como estes.
3. Manter a perspectiva
Durante períodos difíceis e de incerteza como os gerados pela pandemia, manter a perspectiva e habilidade de olhar para além da crise imediata e conseguir permanecer otimista sem cair no desespero.
Pessoas resilientes são capazes de olhar o copo meio cheio, se concentrar nas dimensões positivas e olhar para frente com confiança e esperança.
Pode parecer algo simples, porém observamos muitas lideranças se apegarem a seus detratores e, frente aos intensos desafios do último ano – sejam eles no âmbito profissional ou pessoal – transmitirem uma postura negativa para suas equipes durante este período, levando à perda de motivação, de engajamento e aumentando o turnover em suas organizações.
Líderes resilientes são capazes não só de olharem o “copo meio cheio”, mas também transmitirem sua energia positiva e ajudarem seus times a manter a perspectiva.
É fundamental conseguir olhar além do óbvio, mostrar às pessoas as diferentes polaridades enfrentadas e reforçar os aspectos positivos da organização e que estão funcionando.
Manter a perspectiva é um aspecto importante da resiliência, pois nos permite identificar as oportunidades ou possibilidades que podem facilitar o crescimento e o desenvolvimento pessoal e das organizações, emoldurando uma crise com elementos positivos. Manter a perspectiva evita que caiamos em armadilhas mentais simplistas.
4. Sustentar-se nas suas fortalezas e nas de seu time
Em meio a momentos de crise, onde consistentemente somos colocados à prova e enfrentamos situações pelas quais nunca passamos antes, muitas vezes erramos mais do que de costume, acabamos apresentando um desempenho abaixo do esperado, e podemos acabar nos apegando mais às nossas fraquezas e áreas de desenvolvimento do que em nossas fortalezas.
Pessoas resilientes são curiosos em relação ao seu desenvolvimento, e têm clareza de suas fortalezas.
Elas se concentram em suas fortalezas para em momentos desafiadores, focar em oportunidades de ação que alavanquem as dimensões que possuem de melhor, ao invés de se deixarem bloquear por situações ou ações que não são possíveis no curto prazo.
Líderes resilientes usam seus pontos fortes – e estimulam os pontos fortes de suas equipes – com mais frequência. Notadamente, são pessoas mais felizes no trabalho, com maior autoestima e autossuficiência, apresentando níveis maiores de resultados, desenvolvimento e engajamento em suas equipes.
5. Trabalhar com propósito
Trabalhar com um propósito significa permanecer alinhado com o seu próprio sistema de valores pessoais, ter uma direção clara e saber que suas ações são importantes e estão dando uma contribuição positiva para a organização e para a sociedade.
Pessoas resilientes têm clareza do “porquê” de suas ações, sabem quais são os seus valores pessoais e a forma como desejam contribuir para o mundo, perseguindo suas ambições e as conquistas que gostariam de ter em suas vidas – sejam elas no âmbito pessoal ou profissional.
Líderes resilientes comunicam e defendem com clareza o propósito de suas organizações, permeando as suas decisões e fazendo com que este propósito permeie as decisões de suas equipes.
Isso faz com que as pessoas não se sintam vítimas das circunstâncias e se mantenham mais focadas em suas aspirações.
Concluindo…
Sustentar a resiliência individual e da equipe, após tanto tempo enfrentando a pandemia é desafiador para todas as lideranças. É uma habilidade fundamental para que as organizações saiam fortalecidas e mais preparadas para o cenário pós-Covid.
Estas 5 dimensões podem ajudar a refletir sobre a sua própria resiliência – e como buscar ativar a resiliência em suas equipes.
Para tanto, é importante manter-se atento aos sinais de nosso corpo e mente, atentar-se em como estamos nos comportando nestas dimensões, assim como estabelecer uma comunicação aberta e transparente com as equipes sobre estes temas, monitorando de perto a resiliência organizacional.
Comentário