Olhar para o futuro e fazer projeções faz parte do comportamento de boa parte dos seres humanos. Essa capacidade, chamada de planejamento, auxilia nas tomadas de decisões e construções de caminhos a serem seguidos, sejam eles profissionais ou pessoais.

Por isso, inúmeras pesquisas e estudos são realizados para tentar prever o que ocorrerá com o mercado de trabalho.

Claro que essas previsões podem se mostrar imprecisas, até porque se tem algo que aprendemos nesse momento é que tudo pode mudar de uma hora para outra. Por outro lado, sem as previsões, somos como navios sem velas ou remos, sujeitos a sermos levados pela correnteza.

Quando nos debruçamos sobre o que se prevê para o mercado de trabalho, nos deparamos constantemente com termos como diversidade, conectividade, habilidades socioemocionais, trabalho remoto e profusão de tecnologia e profissões que ainda não foram inventadas.

Alguns desses elementos já estão presentes em nosso cotidiano organizacional: diversidade, humanização e trabalho remoto (também conhecido como dispersão de local e tempo).

Diversidade deixou de ser uma palavra associada ao politicamente correto e ao marketing, visto que pesquisas já apontam que empresas com maior diversidade geram mais resultados positivos, inclusive financeiros.

Um estudo realizado, em 2018, com 87 instituições financeiras, demonstrou que aquelas que possuem em sua alta direção profissionais do gênero feminino, programas de liderança para mulheres e políticas de igualdade de gênero, tiveram um resultado financeiro superior se comparado a instituições bancárias que não possuem tal prática.

Ainda, conforme pesquisa desenvolvida em 12 países, empresas que investem em diversidade de gênero têm resultados 21% maiores do que as empresas com menor diversidade.

Como podemos observar, não é à toa que a diversidade é uma tendência do mercado – na pesquisa realizada pelo Glassdoor, em 2020, 64% dos profissionais entrevistados afirmaram que suas empresas estão investindo mais em políticas de inclusão e diversidade do que em anos anteriores.

Para que o retorno citado ocorra, é importante que a diversidade não se dê apenas como política de inclusão, mas principalmente de representatividade, permitindo e criando oportunidades para que o profissional chegue a cargos de alta gestão, servindo de inspiração para os demais colaboradores e membros da sociedade.

Ainda, a diversidade, para fazer parte da agenda coorporativa deve ser encabeçada pela alta gerência, sendo incluída em práticas de gestão e na própria cultura organizacional.

A abordagem acima entra em sinergia com a necessária humanização do trabalho. Por vivermos em um cenário cada vez mais tecnológico, onde há uma ascensão maciça de robôs em processos produtivos e da inteligência artificial em atividades humanas; a habilidade e capacidade de ser humano torna-se um diferencial ainda muito distante de ser reproduzido pelas máquinas.

Conceitualmente, o termo humanização está vinculado ao respeito e valorização da pessoa humana e de suas competências, constituindo um pilar para transformação da cultura organizacional, aproximando o ambiente profissional do conceito de bem estar social, com políticas e práticas moralmente éticas.

Especificamente, o termo está atrelado também as chamadas soft skills, que são as competências comportamentais como criatividade, empatia, cooperativismo, liderança etc. Tais competências passaram a ser não somente valorizadas como estimuladas no mercado, aumentando a procura por cursos e qualificações, bem como programas empresarias de desenvolvimento humano e organizacional.

Em uma pesquisa realizada pelo LinkedIn em 2019, com mais de 5 mil profissionais da área de RH de 35 países, mais de 91% dos respondentes destacou a importância das soft skills no ambiente profissional, chegando a serem consideradas vitais.

Unindo-se aos dois elementos citados, encontra-se um mercado de trabalho futuro extremamente disperso, no que tange tempo e espaço. Historicamente, trabalho é caracterizado por ser um local para onde vamos trabalhar, tendo horário de início e término estabelecidos, sendo normalmente realizado no mesmo local, com as mesmas pessoas.

A tecnologia e demais mudanças sociais alteraram esse status, aumentando as possibilidades de atuação, novos formatos de negócios e, obviamente, alcance globalizado.  Logo, a realização do trabalho passou a permear outros momentos da vida, quase que em simbiose, confundindo-se com a própria vida.

Em um futuro não tão distante, percebesse que o local de realização do trabalho não será mais importante, e muito menos em que horário será realizado.

A tendência de trabalhos por projetos, de equipes multifacetadas, do uso da tecnologia, da superação das dificuldades e limitações do transporte urbano, da descentralização das metrópoles, da busca por qualidade de vida e da diminuição significativa das proteções trabalhistas, torna o mercado futuro ilimitado.

Contudo, todas essas possibilidades não podem servir de pretexto para a adoção da precarização, fazendo com que os colaboradores estejam disponíveis e trabalhando 24h por dia. Aqui, cabe um olhar humanizado, entendendo que essas possibilidades devem servir para permitir uma melhor qualidade de vida e uso consciente do tempo, não somente ganho de produtividade e aumento de lucro corporativo.

O contexto atual nos trouxe um pouco do que teremos no futuro, sendo que a pandemia do Covid-19 intensificou medidas e acelerou processos.

O trabalho remoto (dispersão), a auto gestão, liderança consciente, aumento da empatia entre colegas (humanização) e a necessidade de realidades diferentes (diversidade) para auxiliar na construção de soluções coorporativas para saída da crise, são elementos que não serão passageiros e nem deixarão de existir pós pandemia.

Logo, o quanto antes organizações e profissionais compreenderem e se prepararem para essa transformação, mais preparados estaremos para o que o futuro nos reserva.