Os impactos do isolamento social durante a pandemia da Covid-19 na vida das pessoas estão sendo amplamente discutidos, seja nas relações pessoais ou de trabalho; como eles têm afetado o corpo e, principalmente, como têm afetado a saúde mental dos profissionais.
Trata-se de uma discussão importante, principalmente neste momento, onde há flexibilização em grande parte das cidades brasileiras, e o retorno ao dia a dia dentro das empresas parece ser inevitável, mesmo sem a primeira onda de contágio ter cessado.
Empresas se preparam para voltar à rotina e já estão convocando seus funcionários. Outras, decidiram manter o trabalho a distância por mais tempo ou resolveram adotar a modalidade de forma permanente.
E sabemos que ambas situações estão provocando alta carga de estresse nos colaboradores, sendo a primeira relacionada, principalmente, à insegurança no ambiente de trabalho e o possível aumento do risco de contágio.
Já a segunda, adotada desde o início da quarentena, continua desafiando milhares de pessoas que ainda não sabem muito bem como dosar suas emoções frente às demandas por produtividade, com o aumento da carga de tarefas, inclusive domésticas, e das horas extras dedicadas ao trabalho.
Paralelamente, mesclá-las com as demandas pessoais que estão ali, bem ao lado do escritório caseiro montado às pressas, como a educação dos filhos, manter-se bem alimentado e cuidar da imunidade, cozinhar e limpar a casa, reservando ainda tempo para que se possa arejar a mente e relaxar, contentando-se em falar com amigos e familiares a distância por muito tempo.
Mesmo com esses desafios, os profissionais desejam continuar trabalhando em casa. Uma recente pesquisa do IBM Institute for Business Value (IBV), chamada “Covid-19 Consumer Study”, apontou que o trabalho remoto agradou à grande maioria dos profissionais brasileiros.
Das 14.500 pessoas em oito países (Alemanha, Brasil, China, Espanha, Estados Unidos, Índia, México, e Reino Unido), 52% entre os profissionais que atuam no Brasil desejam continuar trabalhando exclusivamente em casa ou com idas ocasionais ao local de trabalho.
Cerca de 25% manifestaram que querem voltar ao escritório, mas desejam poder trabalhar de casa ocasionalmente; e apenas 10% querem voltar a trabalhar todos os dias no escritório.
Porém, o trabalho remoto ainda é uma novidade para a maioria das pessoas, que estão acostumadas a uma rotina presencial, de corpo a corpo, olho no olho e apertos de mão.
Socializar faz parte da personalidade do brasileiro que, de um dia para outro, foi obrigado a se adequar a uma realidade imposta. Imediatamente, os reflexos dessa privação não demoraram a surgir.
Quase oito meses depois, vemos o aumento de diagnósticos de depressão, estresse, esgotamento mental, pânico e transtornos de ansiedade.
Além disso, há o que afeta o corpo físico como dores na coluna, tendinites, agravamento de problemas circulatórios (varizes) e o próprio sedentarismo pode vir a afetar a saúde como um todo.
Esse mix de doenças provocadas pelo home office estão assolando nossos profissionais.
Seguir no trabalho remoto parece ser uma tendência positiva para o mercado e para as pessoas, mas é preciso mais do que uma oferta de ferramentas para os colaboradores administrarem sua saúde mental e física: é preciso orientá-los a como dosar expectativas, agendas, tarefas e uma intensa gama de emoções que surgem dentro da modalidade, que mostrou ser um intenso desafio de equilíbrio de pratos.
Há a sensação de proteção física relacionada à pandemia, mas por baixo do aspecto informal proporcionado pelo home-office, há pessoas adoecendo de diversas formas em busca de uma alta performance e produtividade.
Manter-se conectado o tempo todo aos grupos de trabalho, produzindo, ao mesmo tempo em que a casa está de cabeça pra baixo e as crianças choram porque estão com fome, não é nada fácil, em especial para as mulheres.
O home office na pandemia acabou por humanizar um pouco a dinâmica das empresas, revelando tanto a essência dos seus colaboradores como também suas vulnerabilidades, inclusive sociais.
Assim, para que essa tendência seja bem sucedida no futuro, o olhar deve ser mais profundo, com uma Cultura Organizacional tão humanizada quanto a proposta.
Mudanças como essa levam tempo e reduzir o estresse provocado por elas também é papel das empresas e de seus líderes.
Se isso não for feito agora, teremos uma fila ainda maior de bons profissionais nas salas de espera virtuais dos consultórios que, consequentemente, serão afastados do trabalho com uma velocidade impressionante.
Trabalhar em casa é entrar em conflito com determinadas áreas nas quais o foco de trabalho é justamente o conhecimento do público-alvo como o marketing digital.
É fato que nem todas as pessoas se adaptarão a essa modalidade, justamente por priorizar o contato presencial. Cabe ao empresário adaptar essa modalidade a depender do perfil do profissional em questão.