Gosto da aprendizagem que a vida nos proporciona. Confesso que foi incrível para mim a experiência de escrever a biografia de um menino de 15 anos, que faleceu vítima das complicações da Distrofia Muscular de Duchenne.

Uma forma de doença muscular, que surge por incapacidade de o organismo produzir uma proteína fundamental para o funcionamento do músculo. Esta proteína chama-se distrofina e a sua inexistência leva a uma perda das fibras musculares, com necrose e substituição por fibrose e tecido adiposo.

Só afeta o sexo masculino.

As meninas ou mulheres podem apresentar sintomas como mialgias, cãibras, graus variáveis de fraqueza muscular e cardiomiopatia. O gene é transmitido pela mãe. Este fato provoca muitas separações, pois os pais não aceitam a doença do filho e acabam abandonando a família.

Conheci a história de algumas mães que tiveram que enfrentar toda a evolução da doença do filho sozinhas, e ainda ouviam dos maridos que a culpa eram delas pelo filho estar doente.

O fato é que nem todo mundo tem verdadeiramente a capacidade de amar e de estar junto na saúde e na doença. O que um menino tão jovem tem para ensinar-nos?

Que história eu poderia escrever sobre a vida interrompida de Ryan Gustavo de Moura Santos Lima?

Nome de rei. Ele nunca quis ser rei, ele dizia ao pai, Moisés Lima: “É melhor ser feliz a ser um rei”.

Ryan, apenas. Ele adorava ouvir o som do próprio nome. Este ERA e É o nome dele, pois ele ainda vive nas fotos, nos vídeos da família e amigos, na memória de muitos, nos corações de todos que conheceram-no profundamente e agora em sua biografia.

A obra fez-me pensar e acredito que vai fazer muitos refletirem sobre a mesma coisa. Às vezes uma pessoa vive 80 anos e não tem uma história significativa para um livro, e de repente, um adolescente que foi descobrindo a sua cadeira de rodas, porque o corpo não aguentava mais as suas dores, nos comove com a sua sabedoria sobre viver.

Todos nós sabemos da finitude da vida. Não tem como escaparmos. Todos nós vamos morrer. Alguns fingem que não vão morrer, outros procuram não pensar no assunto, muitos ignoram a morte como se fossem superiores à sua sedução feminina. Não adianta correr, seremos todos mortos.

Ryan sabia que não poderia se incomodar com este simples e óbvio detalhe. Sua mãe, Aline Aparecida, contou-me que não conseguiu ver o filho antes dele morrer no hospital e que ele pressentia que ela não chegaria a tempo de sua partida.

Ryan disse ao irmão, Victor Hugo, para dizer a mãe, que estava tudo bem, que ele não iria morrer magoado. Eu chorei muito quando ouvi esta história. Coloquei-me no lugar de Aline e doeu em mim ela não ter conseguido dar Adeus ao filho.

Ryan tinha consciência de sua doença e procurou amar as pessoas enquanto estava aqui. Sem corpo presente, ele se situará nas Livrarias, nos criados mudos, nas estantes de livros e em diversos outros lugares dos leitores de sua história: Um driblador da vida – A história de Ryan, um menino que amava o futebol.

O nome da obra surgiu como um sopro. Misturei tudo, o sorriso dele, a alegria, o amor pela sua avó, pelo pai, pela mãe, pelo irmão e pela médica Dra. Maria Bernadete Dutra de Resende.

Uni tudo e construí um título que tinha que conter a palavra Futebol, pois Ryan era Corinthiano roxo. O técnico de futebol, Adenor Leonardo Bacchi, conhecido como Tite deu de presente a Ryan, através de Moisés, o terço que usava quando era técnico do Corinthians.

Seu pai, Moisés Lima contou-me que Ryan dizia sempre que não sentia dor quando sentia muita dor. Contou-me que o filho negava qualquer sofrimento. Moisés percebia que o filho não queria que ele sofresse.

Quantas lágrimas Moisés derramou escondido de Ryan para ele não perceber que a sua generosidade o comovia. Se prestarmos atenção nos sinais da vida, no olhar das pessoas e nas emoções que elas nos trazem, podemos enxergar coisas extraordinárias e aprender coisas que jamais poderíamos imaginar. Quando assistimos a um filme ou lemos um livro sobre alguém que se superou diante das dificuldades, ficamos perplexos e pensando se também seríamos capazes de agir da mesma forma, brilhar do mesmo jeito que aquela pessoa da história, não para os outros, mas para nós mesmos.

Seríamos capazes de sorrir diante de tantos obstáculos que teríamos que enfrentar se tivéssemos certos problemas de saúde que nos impedissem de caminhar, enxergar, ouvir, falar?

Como será amar jogar futebol e não poder chutar uma bola porque não se tem força nas pernas e nem se consegue ficar em pé. Como será não poder dançar quando se ama dançar.

Não poder correr e sentir o vento no rosto e a respiração ofegante por conseguir chegar ao objetivo ou apenas para deixar o corpo mais leve?

Lamentamos tanto na vida quando somos perfeitos, digo perfeitos fisicamente. Falta-nos empatia. Perceber a dor do outro. Quantas pessoas passam despercebidas!

Muitos de nós caminhamos sem pensar nos nossos atos, damos passos sem contar quantos somos capazes de dar num dia, atravessamos ruas sem contar por quantas pessoas passamos em uma hora. Tudo que fazemos torna-se automático e mecânico. Vivemos sem nos dar conta de que a vida é um presente e nesta mágica de estar aqui, caminhamos sem pensar muito nas nossas atitudes corriqueiras.

Aconteceu algo especial comigo ao escrever este livro. Tive a certeza que não devemos desprezar ninguém. Todos nós somos importantes. Eu sempre ouvi as pessoas e só depois de ouvi-las, decidia se as deixavam na minha vida ou não.

Se eu não tivesse dado a oportunidade de ouvir Moisés, eu teria perdido uma excelente oportunidade. Um dia recebi no Facebook um convite para ser amiga de Moisés de Lima e aceitei.

Confesso que não aceito esse tipo de convite de todo mundo no perfil porque tenho minha fanpage @luubalbino, a qual qualquer pessoa acima de 18 anos pode acessar. No caso do Moisés, aceitei e segui a minha intuição, que é bem forte, por sinal.

Quando já amigos, ele desejou-me boas-vindas e disse: “Você é escritora. Que bom, pois estou procurando alguém para escrever a história do meu filho Ryan”.

Muito obrigada a toda a família de Ryan por confiar a mim esta responsabilidade. Espero estar à altura desta tarefa, pois pelos depoimentos da família pude perceber que Ryan era um anjo na Terra em forma de menino.

Desses que aparecem para fazer todos crescerem e valorizarem a grande jornada que é viver. Ryan viveu e morreu com dignidade. A importância da dignidade até na hora da morte. No livro vocês vão entender por que me preocupo tanto em saber se uma pessoa morreu com dignidade.

Para Ryan, a vida foi um presente. Soube aproveitar cada minuto de suas dores como um herói, de suas tristezas como um homem e de suas glórias como um nobre.

Nada, nem os abandonos o fizeram desistir da vida. O lema deste grande menino era ser intenso e manter o sorriso no rosto iluminando a vida de todos que conviviam com ele.

Adeus tristeza!