A Organização Pan-americana de Saúde (Opas) alertou que os efeitos da pandemia de Covid-19 na saúde mental das pessoas provavelmente “persistirão” depois que o vírus for controlado e alertou sobre dados “preocupantes” entre os profissionais de saúde. “Quanto mais a crise durar, maior será o impacto em nosso bem-estar coletivo. E sabemos que esses efeitos provavelmente persistirão depois que a pandemia for controlada eventualmente”, disse em coletiva de imprensa virtual o sub-diretor da Opas, Jarbas Barbosa.
Todas as agências da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertaram sobre as consequências do vírus na saúde mental. O médico advertiu que “hoje esses alertas são uma realidade” e citou os dados preliminares de um estudo conduzido em seis países que revelou “indícios preocupantes” de que um a cada cinco trabalhadores da saúde apresenta sintomas de depressão. “No Chile, quase um em cada 10 tem pensamentos suicidas”, contou Barbosa, mencionando a constante preocupação dos profissionais da saúde sobre a possibilidade de levar o vírus para casa e infectar seus parentes queridos. “Todos ficamos abalados”, disse o especialista, que destacou que estudos em vários países mostraram que a pandemia aumentou os níveis de estresse de muitas pessoas na região.
Neste momento, a situação de crise se soma à sobrecarga de trabalho, à falta de recursos e às equipes reduzidas em um contexto que pode colocar em risco a saúde mental destes profissionais. Por isso, alguns cuidados são essenciais.
É preciso que os profissionais cuidem de suas necessidades básicas, como higiene, alimentação, descanso e convívio social. Sendo importante realizar intervalos durante e entre suas jornadas de trabalho, alimentar-se de forma equilibrada e manter contato com familiares e amigos, ainda que por meios digitais, de forma a manter-se vinculado a uma rede de apoio psicossocial. Além do trabalho, é importante manter atividades de lazer e prazerosas, tais como atividades físicas, meditação e hobbies.
O estresse é uma experiência que certamente será sentida por muitos profissionais de saúde neste período de crise, visto ser um momento de grande mobilização da categoria. Portanto, senti-lo neste contexto não é um sinal de que o profissional não pode mais exercer o seu trabalho, mas sim um lembrete para redobrar a atenção nos cuidados com sua saúde emocional.
Acolhendo o medo
O medo – como o receio de levar o vírus para casa e atingir familiares, por exemplo – também é um sentimento que pode estar presente. Nessas horas, é essencial estar munido de informações, realizar uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e seguir as orientações de prevenção. Conversar com colegas de trabalho pode estimular a formar uma rede de apoio, pois podem estar passando por situações semelhantes, assim como auxiliar a elaborar estratégias para minimizar este sentimento.
Os profissionais de saúde, diante da alta carga de trabalho e de estresse, podem manifestar sinais de esgotamento tais como: dificuldades para dormir, prejuízo das atividades laborais e de autocuidado e sentimentos de raiva, ansiedade, solidão e medo. Podem ainda manter-se em estado de alerta, com necessidade constante de informações sobre a epidemia e perguntas persistentes aos familiares e colegas sobre seus estados de saúde.
Em um quadro como este, é importante sinalizar à pessoa a percepção de que ela se encontra fragilizada e incentivá-la a buscar ajuda de profissionais de saúde mental, sem confundir fragilidade com fraqueza ou inabilidade de lidar com a situação. A exposição de profissionais de saúde nestes momentos os coloca como vulneráveis ao adoecimento psíquico, sendo fundamental respeitar os limites humanos ao entrar em contato com uma carga tão grande de sofrimento e angústia.
É importante ressaltar que a prevenção também deve estar presente quando se fala sobre saúde mental. As instituições precisam dar capacitações e treinamentos, se adiantando às epidemias ou outras emergências. Há uma grande diferença entre fazer um preparo gradual ou a necessidade de uma ação emergencial. Essa experiência também pode ajudar a refletir sobre qual o apoio em saúde mental que se dá ao trabalhador em outros momentos. As dificuldades ficam ressaltadas na crise, mas estão presentes no dia a dia das equipes de saúde.
Portanto, a pandemia do Covid-19 vem demostrar entre outros pontos que há necessidade urgente em nos prepararmos para o acolhimento, para a humanização, para o espírito de equipe de grupo e de coletividade. Urge em nós, sociedade, acolhermos a ideia de que somos um coletivo e que cada ato individual interfere de algum modo no contexto geral, o tão falado “efeito borbolet
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